União Nacional da Bioenergia

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Fórum de Articulistas

Por um Brasil mais doce e próspero
Publicado em 09/05/2016 às 09h55
No início de abril, a região Centro-Sul do Brasil deu a partida para mais uma safra do setor sucroenergético.

A safra 2015/16 encerrou em 31 de março passado com moagem total de 617,65 milhões de toneladas de cana, sendo 14,03 milhões de toneladas processadas na 2ª quinzena de março/16, cana que deixou de ser processada no final de 2015.

O clima que dificultou o processamento de cana da safra 2015/16 contribuiu para um melhor desenvolvimento do canavial para a safra 2016/17, que tem uma previsão de moagem acrescida em cerca de 5 milhões de toneladas de cana, se considerarmos o novo critério de safra.

No início de março, a previsão do clima era de maior volume de chuvas no primeiro semestre, ainda influenciado pelo efeito EL Niño. Para o segundo semestre, as previsões indicam uma reversão, com efeito La Niña, e redução do volume de chuvas.

Caso tenhamos uma confirmação da previsão climática, poderemos ter um atraso na moagem do primeiro semestre, o que não ocorreu neste princípio de safra, com redução de volume de cana moída, teor de açúcar na cana mais baixo, implicando em redução de volume total de produção. De outro lado, teremos boas condições de brotação de soqueiras, assim como o desenvolvimento da cana planta de 2016, favorecendo a produção do ano seguinte.

Para o segundo semestre a situação se inverte, com clima mais seco poderemos ter melhores condições de processamento, cana com melhor maturação, elevando teor de açúcar, porém, com queda de produtividade para o final de safra, mas ainda assim possibilitando um maior volume de produção. Neste caso, teremos piores condições de desenvolvimento das soqueiras, com maiores falhas na brotação, resultando em comprometimento de produtividade para a safra 2017/18.

Com clima mais seco, teremos melhores condições para processar a cana na safra 2016/17, com redução de volume para a safra 2017/18. Com clima mais chuvoso, teremos maior volume de cana para a safra 2017/18, e menor volume de produção para a safra 2016/17. Neste horizonte de dois anos, temos pouca variação no volume total produzido.

O setor precisa ser visto a médio prazo, 3 a 5 anos. Um fator fundamental para a produção do setor é o volume de cana plantada. O canavial está ficando mais velho, com plantio menor que 17% da área, que normalmente é recomendado a fim de manter o canavial em condições técnicas de estabilidade na produtividade nos cortes futuros. Não fosse o clima tão favorável durante 2015, já teríamos uma redução de volume de cana para a safra 2016/17. Mas para a safra 17/18, as projeções deverão ser de redução de volume em relação à safra 16/17.

Para esta temporada, temos expectativa de uma safra com mix mais açucareiro que a safra 2015/16, com acréscimo de produção de açúcar na ordem de 3 milhões de toneladas, 10% superior à safra passada, operando próximo à capacidade máxima de produção da commodity, 35 milhões ton de açúcar/ano. Já para o etanol, devemos ter uma produção muito próxima a da safra 15/16.

O setor aproveita a redução de demanda por combustíveis Ciclo Otto no mercado interno, direcionando o crescimento de oferta de cana para atender parte do déficit do mercado mundial de açúcar.

Com taxa de câmbio favorável para as exportações do Brasil, teremos melhores preços para o açúcar, contribuindo para recuperar parte da rentabilidade perdida nos últimos anos.

Com preço e volume superiores, o setor deve se aproximar de US$ 10 bilhões como saldo na balança comercial na safra 16/17.

A demanda mundial de açúcar cresce cerca de 3 milhões de toneladas por ano. O Brasil tem o menor custo de produção mundial, com boas condições técnicas para ampliar a produção de cana, com área agricultável disponível e clima favorável, devendo ser o principal responsável para atender à nova demanda mundial. O Brasil pode acrescentar cerca de 15 milhões de toneladas de açúcar nos próximos 15 anos, 30% do crescimento de demanda, chegando a 40 milhões de toneladas por ano exportadas.

Os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil na COP21, com a redução das emissões, assumem produção de etanol de 50 milhões de m³ em 2030, ou seja, o dobro da produção atual do Centro-Sul.

Serão necessárias 290 milhões de toneladas de cana adicionais, 120 milhões para o açúcar e 170 milhões para o etanol, cerca de 50% acima do volume atual, crescimento de 2,7% ao ano nos próximos 15 anos.

Para a safra 16/17 temos previstas 620 milhões de toneladas, com efeito positivo do clima, 11% acima, das 560 milhões de toneladas da safra 2010/11 no C/S do Brasil, 6 anos após, crescimento de 1,75% ao ano.

Este crescimento somente será possível em condições mais favoráveis para investimentos e desenvolvimento tecnológico, caso contrário, teremos elevação nos preços internacionais do açúcar e os compromissos assumidos pelo Brasil na COP21 estarão comprometidos.

Considerando o passado recente do Brasil, o esforço terá que ser redobrado.

A partir de 2006, foi criado um cenário muito positivo para investimento no setor sucroenergético brasileiro. Foi uma época de investimentos expressivos em novas fronteiras e também muitas operações de fusões e aquisições. Os investimentos predominantes foram de investidores externos, com forte presença das trading tradicionais.

Ao contrário do que se esperava, estes grupos consolidadores não apresentaram os ganhos de escala esperados, pois se depararam com as dificuldades da operação agrícola, dificultada pelo momento de adaptação de novas práticas de mecanização na colheita e no plantio da cana.

Nos últimos anos tivemos perda de performance operacional, decorrentes da mecanização, elevação nos custos dos insumos, que resultaram em elevação dos custos de produção e perda de rentabilidade, provocando elevação no endividamento com forte descapitalização para pagar os serviços da dívida.

Esta realidade vivenciada nos últimos 10 anos desencoraja novos investimentos, pois a maioria dos investidores não foi bem-sucedido na última década, e muitos grupos estão optando por saírem do negócio, com muitas ofertas de venda.

O valor para implantação de novos investimentos está mais elevado que o valor de aquisição de operações existentes. Neste quadro, o investidor prefere adquirir operação existente, e com isto, novas plantas serão postergadas, até o momento que o mercado se equilibre.

Esta transição deve perdurar por alguns anos e, somente após esta fase, teremos investimentos em novas unidades. O prazo entre a decisão de implementar uma unidade nova e efetivamente entrar em operação é de cerca de 3 anos, o que nos faz crer que antes de 2021 é muita baixa a probabilidade de entrar em operação novas unidades, com a retomada do crescimento da capacidade de produção.

Se criarmos condições favoráveis hoje, teremos o crescimento de capacidade de produção a partir de 2021, ou seja, 10 anos até 2030, exigindo crescimento de 4,14% ao ano, se considerarmos parar de perder capacidade produtiva atual.

Além desta conjuntura da estrutura de produção do setor, ainda temos outros aspectos políticos e de regulamentação necessários para retomar a atratividade de investimentos no setor, tais como:

- Equacionar o endividamento de cerca de 1/3 das unidades produtoras do país;

- Estender o prazo de vigência para o crédito presumido do PIS e Cofins para etanol hidratado;

- Garantir previsibilidade econômica ao setor, com regras de mercado, eliminando as intervenções do Estado, principalmente relacionadas aos preços de gasolina e política fiscal;

- Melhorar a infraestrutura logística, o que contribui para redução dos custos de escoamento da produção;

- Estabelecer política de Estado para o setor de energia, com equalização econômica dos preços dos combustíveis com justa precificação do carbono, estabelecendo parâmetros fiscais que não sejam alterados pelo Governo, de acordo com as conveniências do momento;

- Fortalecer os acordos comerciais multilaterais, reduzindo as barreiras comerciais para o açúcar;

- Criar linhas de crédito para investimento, com taxas de juros e prazos adequados ao setor;

- Conceder incentivo fiscal para P&D;

- Estreitar o relacionamento do Estado com o setor, criando estrutura moderna de governança, unificando a linguagem, presença na mídia e planejamento estratégico setorial, aliado aos interesses do país, eliminando posturas e atitudes de desconfiança e destruição imagem;

- Agentes brasileiros devem participar ativamente para garantir o cumprimento do acordo da conferência COP21;

- Acelerar a liberação de créditos para estocagem de etanol, com taxa de juros atrativas.

Sejam quais forem as condições climáticas, o Brasil terá uma safra ligeiramente maior que a safra passada, próxima ao limite de capacidade de produção de açúcar, e a capacidade de processamento de cana.

Para a safra 2017/18 temos forte possibilidade de redução de volume de cana.

Incertezas são muitas, desde a caótica situação política do país, com forte impacto negativo na economia, sem previsão de seu desdobramento, até a baixa de preços internacionais para o petróleo. Qual será o novo patamar de preços para o barril de petróleo? Até quando teremos preços de petróleo deprimidos?

Boa parte do setor está com fortes limitações de caixa, impedindo as execuções das melhores práticas agronômicas, com retardamento de renovação dos canaviais, comprometendo a produtividade futura.

São mais de 70 unidades em recuperação judicial e outras com forte risco de iniciarem o processo, caso não tenha uma forte e rápida recuperação da rentabilidade, condição necessária para o reequilíbrio econômico de muitas unidades tradicionais do setor, solapadas pela forte e desastrosa intervenção do Governo quanto à prática de preços e tributos dos combustíveis.

Devemos ter mais um início de safra pressionando os preços do etanol para baixo, devido ao excesso de oferta por necessidade de liquidez, podendo mais uma vez comprometer a rentabilidade das unidades que pressionadas financeiramente, aceleram suas vendas, muitas vezes praticando preços aviltantes.

Por outro lado, entraremos em um ciclo de alta dos preços do açúcar no mercado internacional, que inicia um ciclo de queda nos estoques mundiais. Teremos possivelmente alguns anos com produção inferior ao consumo.

Este quadro pode gerar uma melhor condição de rentabilidade para as unidades com equilíbrio financeiro, mas pode ser neutro ou até negativo para as unidades com maior nível de endividamento, ou altamente concentrada na produção de etanol.

São muitos os desafios que teremos, setor e Governo. Mais uma vez nosso setor pode auxiliar o Brasil a vencer obstáculos e sair de uma situação econômica desconfortável, retomando investimentos, gerando empregos e divisas.

Queremos e podemos ajudar o Brasil a sair desta crise, com trabalho e competência, atendendo ao mercado com produtos de qualidade, a custos competitivos, contribuindo para um planeta mais limpo e socialmente mais justo.

O setor já provou sua capacidade e espírito empreendedor, mas foi traído pelas mudanças de prioridades do Governo. Agora queremos e lutaremos por um país mais doce e equilibrado!

*Artigo originalmente publicado na Revista Canavieiros, coluna Ponto de Vista III, edição de Abril de 2016.
Celso Torquato Junqueira Franco
Presidente da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia)
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