União Nacional da Bioenergia

Este site utiliza cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Ao continuar navegando
você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade

Fórum de Articulistas

Um Bilhão
Publicado em 06/03/2019 às 14h38
A Safra de verão do Centro-Sul está correndo de forma muito irregular, basicamente por causa das condições do clima: o El Niño andou fazendo muitas "molecagens" nessa estação. Os meses de outubro e novembro foram chuvosos, o plantio de grãos foi até antecipado, permitindo prever uma colheita precoce de soja, e, a partir disso, surgiu a abertura de uma janela maior para a segunda safra de milho, com consequente abundância do produto.

Mas, em dezembro, fez muito calor e faltou chuva em muitas áreas, sobretudo no Sul e no Nordeste do País, com consequência desastrosas para produtores dessas regiões, que já contabilizam prejuízos pesados nas colheitas de soja e milho. E, em janeiro, houve uma má distribuição pluviométrica, de modo que a irregularidade das roças é patente, além de haver continuidade das altas temperaturas.

Mesmo assim, ainda é possível esperar uma grande safra de grãos, dada a alta tecnologia empregada: como se sabe, anos seguidos de boa aplicação tecnológica conferem às culturas anuais uma maior resistência a veranicos ou à redução de expectativas devido ao clima.Quando esta revista estiver circulando, teremos maior clareza quanto ao volume de grãos a ser colhido, mas números em torno de 230 milhões de toneladas são factíveis.

Isso leva a um comentário recorrente: sempre se analisa a perspectiva de safras sob a ótica de volumes de produção. E sempre se comparam diferentes anos para avaliar o aumento ou a diminuição das colheitas, quando,na verdade, o importante seria comparar o faturamento de cada segmento para se verificar se houve ou não melhoria na economia setorial. Isso já é mais ou menos feito, mas o mais relevante mesmo é comparar os custos de produção ao valor de venda. Só assim, pode-se definir se o resultado foi positivo ou negativo.

E é aí que mora a dificuldade: o Brasil é muito grande, os custos variam demais em função da logística, o clima interfere muito nas diversas regiões produtoras, e as análises acabam olhando os resultados pela média, o que é muito precário quanto à estabilidade de renda do empresário rural. Mesmo quando são realizados estudos por estado, a média estadual - por serem os estados muito grandes - mascara a realidade do ponto de vista do produtor. Sob esse prisma, considerados os preços das principais commodities e o aumento dos custos de produção em função dos preços de insumos, podemos mesmo ter uma safra grande, ajudando o País a combater a inflação e aumentar o saldo comercial, mas os produtores terão problemas de renda em vastas regiões.

Os números são impressionantes: o volume da produção agrícola de 2019 será próximo de 1 bilhão de toneladas: 230 milhões de toneladas de grãos, 620 milhões de toneladas de cana, 62 milhões de sacas de café, 273 milhões de caixas de laranja, 28 milhões de toneladas de carnes (10 milhões de bovina, 14 milhões da de aves e 4 milhões da suína), 37 bilhões de litros de leite, cerca de 45 bilhões de ovos, 13 milhões de toneladas de hortifrúti, e assim por diante. No ano passado, exportamos US$ 100 bilhões do agro. Podemos superar isso em 2019. Um bilhão de toneladas! US$ 100 bilhões de exportação! Mas, qual é o futuro de tudo isso sem renda para o produtor?

Que venha o seguro agrícola tão sonhado por todo mundo!


*Texto originalmente publicado na revista AgroAnalysis edição fevereiro/2019 página 45
Roberto Rodrigues
ex-Ministro da Agricultura, Embaixador da FAO para o Cooperativismo e Diretor do Departamento de Agronegócios da FGV
Fique informado em tempo real! Clique AQUI e entre no canal do Telegram da Agência UDOP de Notícias.
Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não representando,
necessariamente, a opinião e os valores defendidos pela UDOP.
Últimos Artigos
Foto Articulista
PLÍNIO NASTARI
Brazil moves ahead in sustainable mobility
Publicado em 03/04/2024
Foto Articulista
ARNALDO JARDIM
Paten acelera a transição energética, por Arnaldo Jardim
Publicado em 03/04/2024
Foto Articulista
MARTINHO SEIITI ONO
Biocombustíveis no plano de voo, por Martinho Ono
Publicado em 28/03/2024
Foto Articulista
ANTONIO CESAR SALIBE
Etanol: sobreviver para avançar! - por Antonio Cesar Salibe
Publicado em 27/03/2024