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Combustíveis Fósseis

Ataque na Arábia Saudita pode ser considerado um 11 de Setembro, diz diretor da ANP
Publicado em 17/09/2019 às 09h08
O ataque com drones no fim de semana contra infraestruturas petroleiras na Arábia Saudita pode ser visto como uma espécie de 11 de Setembro para o mercado do petróleo. A comparação é do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone. Nesta segunda-feira, 16, ele expressou preocupação com o futuro do setor em uma série de posts no Twitter.

Segundo ele, assim como o atentado às Torres Gêmeas colocou em xeque a segurança do mundo, a ação impetrada no Oriente Médio contra unidades da petroleira Saudi Aramco faz com que a sensação de risco aumente no setor petrolífero. "Do ponto de vista do risco, o evento de sábado pode ser considerado uma espécie de 9/11 (ataque às torres gêmeas) do mercado do petróleo. Depois dele a sensação de risco aumentará", escreveu. A conta não é verificada pela rede social, mas a sua autenticidade foi confirmada pela comunicação da ANP.

Ainda conforme Oddone, medidas preventivas depois do atentado devem ser adotadas, o que também tende a impactar negativamente nos custos operacionais do produto pelo mundo.

O atentado de sábado interrompeu a produção de 5,7 milhões de barris diários de petróleo, montante que representa metade do exportado pelos sauditas e 5% do explorado diariamente no mundo.


Escalada nos preços

Assim que a extensão do atentado ganhou contornos, os investidores de todo o mundo correram em busca de contratos futuros de petróleo, movimento que elevou em 20% a cotação do barril em Londres, a maior alta em uma sessão desde a primeira Guerra do Golfo, em 1991.

Nesta segunda-feira, 16, a ações preferenciais da Petrobrás fecharam em alta 4,20%, a R$ 28,01. O mercado internacional manteve o tom de preocupação. A cotação do petróleo fechou em forte alta nas duas principais bolsas do mundo para a commodity: Nova York e Londres. No Estados Unidos, o barril negociado para outubro registrou alta de 14,67%, negociado a US$ 62,90. Em Londres, a alta do preço do barril vendido para novembro fechou o dia com alta de 14,61%, a US$ 69,02.

No fim do pregão, contudo, relatos das agências Reuters e Bloomberg, de que a produção da Saudi Aramco pode ser normalizada somente dentro de semanas ou até mesmo de meses, ofereceram condições para que o petróleo avançasse ainda mais, extrapolando os 15%.

Autoridades da Arábia Saudita, no entanto, afirmaram mais cedo que a petrolífera pretendia restaurar cerca de um terço da produção afetada até o fim desta segunda-feira.


Reservas internacionais

Pela manhã, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a autorizar o uso das reservas estratégicas de petróleo do país, se necessário. O secretário americano de Energia, Rick Perry, disse que está "pronto" para fazê-lo, mas não deu detalhes se de fato aplicaria a medida. Trump, ainda, sugeriu que o Irã estaria por trás do ataque, o que não está confirmado.

Especialistas, contudo, mantêm um tom pessimista sobre os impactos do uso dessas reservas. O banco inglês ING chegou a declarar, em nota, que os estoques extras da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e de seus aliados não serão "suficientes nem de perto" para compensar a queda na produção saudita. Como o UBS comenta em outro relatório, porém, ainda pode ser muito cedo para identificar quando a oferta se normalizará.

A Capital Economics, por sua vez, pondera que os ataques são mais um vento contrário para a economia global em momento já de incertezas sobre seu ritmo e, consequentemente, para a demanda pelo óleo.


No Brasil

Por aqui, a expectativa é de que os ataques pesem no bolso do consumidor. O especialista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), disse que ao se consolidar um quadro como o desta segunda-feira, a alta global do petróleo deve puxar em até 10% o preço dos combustíveis nas refinarias brasileiras.

"Claro que não vai ser uma alteração imediata no preço. A Petrobrás vai monitorar a situação, avaliar a extensão da crise e, espero, tomar alguma medida quanto ao preço no final da semana", diz.

Para ele, esse será um teste importante, para ver qual é, de verdade, a política do governo de Jair Bolsonaro para a Petrobrás.

"Espero um aumento nos preços dos combustíveis nas refinarias para as próximas semanas. O problema é que o governo, até agora, está alinhado com a categoria dos caminhoneiros. Será que ele vai assumir esse desafio?", pergunta o especialista. "Se não reajustar o preço e acompanhar o mercado internacional, certamente terá dificuldades em vender as refinarias da Petrobrás, que estão preparadas para serem vendidas", afirma.


Inflação

Com a expectativa de aumento no preço dos combustíveis, a gasolina passaria a ser um risco para o índice que mede a inflação oficial do Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Por ora, no entanto, os analistas não alteram a perspectiva de inflação bastante confortável e de uma taxa básica de juros, a Selic, ao redor de 5,0% no fim de 2019.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, calcula que uma alta de 10% no preço da gasolina nas refinarias produziria um impacto de 0,11 ponto porcentual sobre o IPCA, com a projeção calculada pelo ele, para 2019, saindo de 3,25% para 3,36%. No cenário pessimista, um reajuste nos preços poderia chegar a 14%, com efeito de 0,15 ponto, e a estimativa para a inflação do ano vai a 3,40%.

Na Guide Investimentos, o economista Homero Guizzo diz que as expectativas do mercado até podem reagir em alta no curto prazo, com o aumento do petróleo, mas que depois devem voltar à tendência de queda ou estabilidade, pois o que tem ditado esse movimento é a atividade econômica fraca. Hoje, a projeção para 2019 é de 3,40% e, para 2020, de 3,80%.

O economista João Fernandes, da Quantitas, já projeta que o IPCA de 2019 vai ser 3,16% e acredita que a Petrobras não deve repassar totalmente o aumento do petróleo no mercado internacional, justamente pela competição com os preços do etanol. Segundo Fernandes, desde o último reajuste, a empresa tem convivido com uma defasagem de 4,0% em relação aos preços no exterior.


Selic

Quanto à política monetária, o aumento do petróleo não deve ter nenhuma implicação, segundo o economista da Ativa. Os técnicos do Banco Central vão anunciar na próxima quarta, 18, a nova meta para a taxa básica da economia, a Selic. Até sexta, a previsão de dez em cada dez analistas era de nova queda na taxa. Gomes, da Ativa, mantém a previsão. Para ele, por enquanto, o que se vê no cenário global de petróleo é apenas uma ruptura de oferta. O BC, diz ele, tende a responder a somente efeitos de segunda ordem. Por isso, ele mantém a aposta de Selic a 5,0% em dezembro.

Da mesma forma, Guizzo, da Guide Investimentos, mantém a expectativa de que os juros encerrem o ciclo de queda em 4,75%. "A política monetária não deve responder a choques primários."

"Em outras situações, além do aumento para o consumidor final, na bomba, você tem efeitos secundários, como o aumento no frete e no custo das matérias primas. Mas, com o grau de ociosidade que temos hoje, isso fica minimizado", analisa o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Souza Leal. A projeção do Banco ABC para o IPCA de setembro é alta de 0,04% na margem e, segundo o economista, o aumento de preços poderia fazer com que o número chegasse, no máximo, a 0,30%.

"Se você não tiver um problema geopolítico que transforme esse corte de produção momentâneo em algo permanente, eu diria que não há impacto na inflação do médio prazo", completa o economista. O Banco ABC Brasil não pretende rever sua projeção de 3,60% para o IPCA de 2019.
Renato Jakitas, Cristian Favaro. Thaís Barcellos e Cícero Cotrim
Fonte: Estadão
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