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Fórum de Articulistas

Consumo do Hidratado Cresceu 26% nos Primeiros Seis Meses de 2019
Publicado em 07/11/2019 às 09h17
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Seguem as reflexões dos fatos e números da cana em outubro. Segundo a UNICA, desde 1 de abril até 16 de outubro foram moídas 510,3 milhões de toneladas, 5% a mais do que as 486 milhões da safra passada, no mesmo comparativo, graças ao excelente rendimento operacional deste seco final da safra. Cerca de 60 usinas terminando a safra. Surpreendeu o crescimento de 4,6% na produção por hectare, atingindo quase 80 t/ha. Já o ATR está 2kg/tonelada inferior, com 138,12 kg por tonelada, contra 140,28 kg por tonelada no mesmo período de 2018 e veio recuperando neste final, onde a cana está bem melhor em qualidade que a do ano passado (8% acima). Faltam apenas entre 60 a 70 milhões de toneladas para serem processadas, safra já está no final.

A nova estimativa da Canaplan para a safra 2019/20 é de 577,6 milhões de toneladas, praticamente igual às 573,1 da safra 2018/19. Este volume produzirá 25,82 milhões de toneladas de açúcar, pouco abaixo das 26,51 milhões de toneladas de 2018/19. No caso do etanol, serão produzidos 30,27 bilhões de litros, abaixo dos 30,95 bilhões produzidos na safra passada. De acordo com Caio Carvalho o clima é responsável por 40 a 50% da produtividade, sendo os demais investimento, tecnologia, manejo e operações.

Numa amostra equivalente a 50% do setor, o Rabobank estima a dívida líquida em R$ 139/t tonelada de cana em 2019, previsão feita em abril e era de R$118/t em 2018. Neste ano, quase 25 usinas entraram com recuperação judicial, chegando próximo a 93 no total. Usinas saudáveis hoje estariam valendo entre US$ 60 a 80/tonelada de cana moída. Ou seja, o endividamento corroendo parte do setor.

Como boas notícias das empresas, a Cofco anunciou investimentos para aumentar em 10% a capacidade de produção de etanol em mais 4 usinas. Fiquei feliz em ver a notícia da recuperação da Usinas Itamarati, que tive o privilégio de visitar duas vezes, rebatizada agora de UISA, com o aporte do fundo CVCIB. Planos de investimentos envolvem unidade de etanol de milho (capacidade de 300 milhões de litros por ano e quase 100 mil toneladas de DDGs, leveduras para nutrição animal, biogás (feito pela biodigestão de resíduos do processamento da cana, para gerar eletricidade e metano a ser usado na frota diesel) e expansão da capacidade visando ocupar mais a usina. Será uma biorrefinaria processando matérias-primas de plantas e gerando energia, alimentação e insumos industriais. Os resultados de 2018/19 apontam para receita líquida de R$ 732 milhões e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 260 milhões. A produtividade vem crescendo e alcançou 94 t/ha na última safra, moendo 5,1 milhões de toneladas.

Hoje estaria em 13,60 centavos de dólar a libra-peso o preço do açúcar para que usinas comecem a pensar em aumentar o mix do adoçante. Abaixo disto, vai para etanol e este deve ser o caminho agora no final desta safra e no início da próxima.

Nas notícias do açúcar em outubro... Segundo a UNICA nesta quinzena 34,65% da cana-de-açúcar foi destinada à produção de açúcar. Fizemos 23,71 milhões de toneladas no acumulado desde o início da safra estando praticamente igual ao do ano passado, mesmo tendo moído 25 milhões de toneladas a mais.

Segundo a INTL FCStone problemas na Índia e Tailândia levarão a um déficit de 7,7 milhões de toneladas de açúcar. Era de 1,8 m.t. a sua última projeção para a safra mundial que começou em 1 de outubro. A produção da Índia deve cair a 26,9 m.t. (18,3% menor) e a da Tailândia para 13,2 m.t. (11,2% menor). Estima-se que o Brasil ultrapasse a Índia novamente, com 27,5 m.t. no Centro-Sul e somados ao Nordeste seriam 30,2 m.t.(quase 6% maior). A empresa estima a demanda em 186,5 m.t., aumento de 0,8% e a produção em 178,8 m.t. (3,5% menor). Com isto, o estoque cai a 38,5% da necessidade de uso. O mix da próxima safra será de 37,4% para açúcar, quase 3% maior que o atual.

A segunda maior refinaria de açúcar da Alemanha (Norducker) teve prejuízos de 12 milhões de euros no primeiro semestre graças aos baixos preços mundiais do açúcar. Já havia perdido 36 milhões de euros na safra 2018/19. Quem sabe estes prejuízos reduzam a ânsia de produção de açúcar.

Nas notícias do etanol e da energia...Na última quinzena foram produzidos 2,29 bilhões de litros (689,25 milhões de litros de anidro e 1,60 bilhão de litros de hidratado). Desde o início foram feitos 27,52 bilhões de litros (8,31 b.l. de anidro e 19,20 b.l. de hidratado), quase 6% a mais que a safra passada, incluindo o milho, que até agora já fez 667,32 milhões de litros (448,08 milhões de hidratado e 219,23 milhões de anidro). As vendas de etanol aqueceram novamente e nos primeiros 15 dias de outubro as usinas do Centro-Sul comercializaram 1,42 bilhão de litros, sendo 1,34 bilhão de litros ao mercado interno. Foram 357,76 milhões de litros de anidro e 989,97 milhões de hidratado, 4,35% a mais que no mesmo período de 2018.

Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) as vendas de diesel aumentaram 3,4% de janeiro ao final de agosto, quando comparados com 2018. A gasolina caiu 3,7% acumulando 25 bilhões de litros. O hidratado cresceu 25,8% com um total de 14,5 bilhões de litros vendidos, um belíssimo crescimento em apenas um ano.

Segundo a UNICA, de janeiro a setembro o hidratado representou 48,2% das vendas de combustíveis para o ciclo Otto, sendo a maior fatia desde 2009, quando foi 48,4%, logicamente que num volume menor que o de hoje. O preço médio no período foi de praticamente 66% do preço da gasolina. A ANP publicou que o etanol em seu ciclo completo emite apenas 16% das emissões de gás carbônico equivalente da gasolina.

Exportações de etanol do Brasil acumuladas este ano estão em 1,45 bilhão de litros, quase 25% acima do ano passado, puxadas pela atratividade do produto na Califórnia, que já absorveu 650 milhões de litros.

Estoques estavam em 10,981 bilhões de litros em 15 de outubro, cerca de 1% menores que na safra anterior. Destes, os estoques de hidratado estão 2,5% maiores, chegando a 7,3 bilhões de litros. O consumo está forte e estou preocupado com o final da cana.

Os americanos (e nós) esperávamos mais, mas no caso da EPA (agência de proteção ambiental americana) a única medida que foi anunciada a favor do etanol foi voltar o consumo para os 15 bilhões de galões por ano, começando a rever as exceções concedidas às refinarias de petróleo. Hoje o consumo nos EUA é de cerca de 14,5 bilhões. O setor luta pela conseguir ampliar o E15, ou seja, 15% da adição de anidro na gasolina. Nos EUA, pelo motivo de isenção da obrigação de mistura de etanol à gasolina dada às pequenas refinarias, o índice de uso de etanol caiu para 9,4%, que fica menor que o proposto pela RFS. Estima-se que nos EUA 19 usinas de etanol que produziriam mais de 1 bilhão de litros fecharam.

INTL FCStone estima na próxima safra (2019/20) a produção de 29,4 bilhões de litros no Centro Sul, queda de quase 4% em relação a este ano.

O petróleo subiu este mês, trazendo alento ao setor. De acordo com a Archer, os preços médios da gasolina no mundo no final do mês passado eram de R$ 4.55/l (no Brasil foi de R$ 4.37). Segundo a Bioagência (Tarcilo Rodrigues) desde o início do segundo semestre de 2017 o hidratado tem remuneração melhor que o açúcar.

Também saiu este mês que a cota de importação de etanol sem tarifa será limitada aos produtores do biocombustível, no total de 750 milhões de litros, até 30 de agosto de 2020. Também foi regulado o volume que entrará em cada período. Duzentos milhões até fevereiro, limitados a 2,5 milhões por empresa e daí 275 milhões por trimestre.

Goiás aparentemente deixará de reduzir crédito outorgado hoje em 60% sobre o ICMS incidente na comercialização do anidro. São notáveis os ganhos ao Estado proporcionados pela cadeia da cana.

A UNEM (União Nacional do Etanol de Milho) soltou novas estimativas para a produção, esperando fechar a do ano que vem em 1,45 bilhão de litros (cerca de 4% da produção brasileira), saltando para 2,5 bilhões de litros na próxima safra. São 11 unidades funcionando, 3 exclusivas para milho e 75% deste total está em MT. Acreditam que em 2028 cerca de 20% do total de etanol produzido no Brasil virá do milho. Anúncio da Millenium Bioenergia prevê 8 unidades nos próximos anos, em Bonfim (RR) e Jaciara (MT), depois virão novas em Itacoatiara, Rio Preto da Eva, Manaus e Tabaporã. Cada unidade é estimada em US$ 170 milhões.

A S&P Global Platts estima que o mercado brasileiro de etanol crescerá 5 bilhões de litros até 2025 (2,5% ao ano), o que nos fará importador líquido, principalmente dos EUA que terão um superávit de etanol de 6 bilhões de litros por ano.

A JBS foi autorizada a receber os Créditos de Descarbonização (CBio) no RenovaBio, pela produção do biodiesel a partir do sebo bovino. Para se ter uma ideia da dimensão, 1 CBio pode ser emitido a cada 370 litros de biodiesel produzidos. Como sua capacidade é de 260 milhões de litros, poderá ter 636 mil CBios.

Levantamento da ÚNICA mostra que do início do ano até o final de julho, a biomassa produziu 13.387 GWh para o SNI (Sistema Interligado Nacional), o que representa 2,5 vezes mais do que a produção de energia elétrica vinda da termelétrica a carvão mineral e praticamente 11 vezes maior que as térmicas a óleo. O volume 4% inferior ao mesmo período em 2018, principalmente pela queda de 3,1% no setor de cana. Deste total da biomassa, a cana representou 10.880 GWh, o que dá 4% do consumo do Brasil e 83% do total é ofertado nos períodos secos, contribuindo para a complementariedade do sistema. A EPE acredita que apenas 15% do potencial é aproveitado.

Ao fechar esta coluna o litro do etanol hidratado nas usinas de SP com impostos estava em R$2,28/l e o anidro em R$ 2,18/l pelas pesquisas da Consultoria SCA.

Finalizando... qual seria a minha estratégia com base nos fatos?

O que observar agora em novembro: Temos menos de 70 milhões de toneladas de cana para serem processadas. O canavial está mais velho, as áreas plantadas também tiveram ligeira queda e a quantidade produzida é praticamente a mesma. Ao fechar esta coluna o petróleo tipo Brent estava USD 62 o barril, o que permite competitividade ao hidratado. Como o consumo segue firme, é praticamente inevitável o aumento dos preços para regular a demanda na entressafra da cana. Estimativas da próxima safra indicam a mesma quantidade de cana e chegaremos com estoques extremamente baixos, a menos que se recorra ao etanol americano. Consumo de etanol elevado, os estoques de passagem, preços do petróleo, e as expectativas de safras na União Europeia, Tailândia e Índia são as variáveis de atenção a serem monitoradas. Creio que em todas teremos boas notícias. Etanol deve subir e aos poucos puxar o preço açúcar.
Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
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