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Diversas

Abiove quer engajar governo em fundo contra desmatamento no Cerrado
Publicado em 26/06/2020 às 09h25
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) tem procurado apoio do governo federal para deslanchar a criação de um fundo para pagamento de recompensas a produtores que cultivem soja no Cerrado sem desmatamento, ainda que tenham direito de fazê-lo dentro da lei.

A ideia, que já foi levantada pela entidade em anos anteriores mas não se concretizou, veio à tona durante uma videoconferência em que a associação apresentou dados mostrando uma diminuição do cultivo de soja em áreas desmatadas no Cerrado.

"Estamos conversando com os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente para avançar na criação do fundo e viabilizar pagamentos para o produtor que optar por não abrir área (de vegetação nativa), e esperamos que possamos engajar o governo nisso", disse o presidente da Abiove, André Nassar, durante evento online para apresentar um estudo sobre a soja no Cerrado.

Para Nassar, a soja integra uma das cadeias mais próximas de emitir "títulos verdes".

A proposta pagaria aos agricultores elegíveis do Cerrado uma média de 150 dólares por hectare ao ano pela preservação de áreas que poderiam ser legalmente desmatadas, disse o gerente de sustentabilidade da Abiove, Bernardo Pires.

Segundo ele, o cálculo foi feito com base no valor do arrendamento da terra junto a outros fatores.

Considerando a adesão de 100% dos sojicultores da região, a Abiove calcula que o custo para zerar o desmatamento no Cerrado por cinco anos seria de, aproximadamente, 250 milhões de dólares ---meta de valor pleiteada para ao fundo.

A viabilização do fundo depende ainda da mobilização do grupo ´SOS Cerrado´, formado por 154 empresas europeias em 2018, por meio da assinatura de um manifesto.

Os importadores europeus são os mais exigentes por produtos vindos de áreas livres de desmatamentos, portanto, a Abiove considera que os recursos para a compensação do agricultor brasileiro devem partir destes compradores.

"Dependemos da mobilização desse grupo do SOS Cerrado, que entendeu e apoia o conceito, e estamos em fase de mobilização de recursos. Porém os últimos meses com a pandemia não facilitaram o processo", destacou o diretor-executivo da empresa de análises Agrosatélite, Bernardo Rudorff.

Procurado pela Reuters após a webinar, o presidente da Abiove esclareceu que as conversas com governo federal sobre a remuneração aos sojicultores foram "informais" e, até o momento, nenhuma proposta foi encaminhada oficialmente.

"A gente está mencionando sempre que possível que, se houver interesse do governo em fazer pagamento por serviço ambiental, a cadeia da soja pode ser uma ideia e com apetite por parte dos nossos compradores", afirmou Nassar.

Ele também lembrou que, neste mês, foi lançado o programa Floresta+, no qual o Ministério do Meio Ambiente vai destinar mais de 500 milhões de reais para iniciativas de conservação e recuperação ambiental na região amazônica.

"Se quiserem construir algo deste tipo voltado para commodities agrícolas, com visão para o Cerrado, temos até estudos sobre como viabilizar, tal como o que está sendo divulgado (pela Abiove) nesta quinta-feira", acrescentou.

OPOSIÇÃO
Procurado, o presidente da associação de agricultores Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira, disse que a ideia de se pagar por hectare não desmatado é "antiga" e não interessa aos sojicultores.

Ele disse ainda que não chegou a conversar sobre o assunto com a associação da indústria recentemente. E avaliou que, hipoteticamente, "para compensar, o produtor teria de receber mil dólares por hectare".

Em outra frente, sem qualquer participação da Abiove, ele disse que a associação trabalha em uma proposta para apresentar ao governo sobre como a sociedade poderia pagar pelas reservas legais e áreas de preservação permanente (APPs) que se encontram nas propriedades rurais.

"Primeiro temos que receber pelas reservas legais, a propriedade rural tem que ter renda em toda a área... O meio ambiente é lindo, mas tem que ser pago."

Segundo ele, tal programa poderia ajudar o governo a melhorar "a imagem distorcida do Brasil" no aspecto ambiental.

RITMO MENOR
Estudo encomendado pela Abiove e elaborado pela Agrosatélite, por meio da análise de imagens de satélites adquiridas desde o início dos anos 2000, concluiu que, apesar da expansão da soja no Cerrado, este crescimento sobre áreas desmatadas vem caindo sucessivamente, ao passar de 215 mil hectares anuais de 2001 a 2006 para 73 mil hectares ao ano de 2014 a 2018.

"Temos a menor taxa de desmatamento associado à soja em 18 anos. A justificativa é o aumento da produtividade e a expansão dos plantios em áreas já antropizadas", disse o presidente da Abiove.

Ainda segundo Nassar, os produtores estão percebendo a necessidade de um investimento muito intensivo para a abertura de áreas sobre vegetação nativa, devido ao melhoramento de solo, e com demora na taxa de retorno.

"O processo de tomada de decisão está mudando (e) tem muito a ver com a questão de risco e retorno", afirmou.

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e ocupa 204 milhões de hectares, sendo que 52,5% está coberto por vegetação nativa, conforme os dados da Agrosatélite.

Cerca de 51% do plantio de soja no país, que atingiu ao todo cerca de 37 milhões de hectares na última safra, está no Cerrado.
25/06/2020
Nayara Figueiredo e Roberto Samora
Fonte: Reuters
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