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Diversas

´Imagem ambiental é desafio mortal para o agronegócio´, diz economista
Publicado em 03/07/2020 às 09h12
Para Mendonça de Barros, com discurso de reduzir burocracia, governo deu impressão de que destruição de florestas estava liberada; ele participou da série de entrevistas ao vivo ´Economia na Quarentena´

O economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados, vê com preocupação a condução da política ambiental brasileira -- segundo ele, em nome do combate à burocracia, deu-se a impressão de que a destruição de florestas estava liberada, o que se refletiu no aumento das queimadas no País. Isso gerou, na visão do economista, um "desafio mortal" para o setor. Mendonça de Barros participou nesta quinta-feira, 2, da série de entrevistas Economia na Quarentena, do Estadão.

Na visão do sócio da MB Associados, ainda não está claro o tamanho do estrago que a crise do covid-19 vai deixar na economia brasileira. Segundo ele, o mês de setembro, quando o total de casos e mortes deve estar em uma clara curva descendente, será o momento do governo tomar a frente da reconstrução do País. Para Mendonça de Barros, o melhor caminho é incentivar concessões e privatizações, que têm efeito mais imediato na atividade econômica. "A infraestrutura é a única forma que eu imagino de sairmos do buraco em que estamos."

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:


O Brasil tem perspectiva de retração no PIB de até 9% este ano, segundo o FMI. O que o Brasil pode fazer para reconstruir sua economia no pós-pandemia?

O termo reconstrução é muito adequado. Ao contrário de outros países, que estavam crescendo e tiveram uma parada súbita por causa do vírus, nós mal tínhamos saído de uma recessão em 2015 e 2016. Passamos três anos crescendo lentamente e aí veio esse tombo. Além dessa queda deste ano, que poderá ser de 9%, temos as perdas de 2015 e 2016. No acumulado, vai ser uma queda de 15% entre 2015 e o fim de 2020. Isso significa que o País ficou mais pobre. Além disso, a Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou um estudo que a produtividade do País como um todo caiu 16% entre 2015 e o primeiro trimestre deste ano.


Com a demanda pelo auxílio de R$ 600, a questão da distribuição de renda voltou ao primeiro plano no Brasil?

Sem dúvida. Tinha muita gente que conseguia na informalidade viver como uma classe média modesta. Na hora que as pessoas ficam em casa por causa da pandemia, esse grupo de invisível literalmente fica sem chão porque sua renda cai abruptamente. A pandemia mostra que que não só a distribuição de renda é ruim -- o que não é novidade no Brasil --, mas também expõe a fragilidade do mercado de trabalho. O grande desafio para a equipe econômica vem em setembro, que vai ser um mês chave, porque vamos saber o tamanho do estrago trazido pela covid-19. Só lá que os novos casos e as mortes provavelmente estarão desacelerando na maior parte do Brasil. Muitas empresas também estão batalhando pela sobrevivência. Mas muita gente vai quebrar e nem vai conseguir reabrir. É aí que vamos saber o tamanho exato do desemprego.


Com esses dados em mãos, qual será o desafio?

Montar o orçamento para 2021. Vai ter uma parte do auxílio emergencial que terá de virar permanente, como suporte de renda à população. Além disso, tem de prever um aumento nos gastos na saúde. E como você empacota mais gastos em um cenário de maior controle fiscal? Porque tem de pensar na reconstrução. E o mais importante parece ser o incentivo às concessões, privatizações e PPPs (parcerias público-privadas), pois a infraestrutura é a única forma que eu imagino de sairmos do buraco em que estamos. A partir da situação de setembro, vamos ter dois meses para definir como vamos fazer essa reconstrução.


O agronegócio é hoje o motor da economia brasileira, mas as decisões do setor ambiental têm trazido ameaças de boicote. Isso atrapalha o País?

Atrapalha, definitivamente. Lamentável que isto esteja acontecendo porque o agronegócio realmente produz com tecnologia relativamente sustentável e não precisa queimar um pé de árvore. Com o discurso de redução da burocracia, a mensagem que o governo passou na área ambiental desde o ano passado é a de que liberou geral. Tanto é que, a posteriori, aumentou a invasão de terra. E isso (a questão ambiental) é um desafio mortal ao agronegócio. Está cada vez maior o número de entidades que trabalham com exigências de sustentabilidade. Portanto, nos atrapalha, é mortal. O que acaba acontecendo é que a ministra da Agricultura (Tereza Cristina) é a única que tem de sair correndo para colocar panos quentes (na situação).


Como reverter isso?

Se o assunto for bem encaminhado, nós temos uma avenida para crescer. O Brasil é o único grande fornecedor do mercado internacional que tem capacidade de aumentar em 10% ou 20% a produção nos próximos anos. Na semana passada, saiu um trabalho da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que calcula o subsídio na agricultura. A agricultura brasileira é a mais competitiva do mundo sem receber subsídio. O suporte da política agrícola no Brasil é de pouco mais de 1% do valor da produção. Na China é 20%, enquanto na Europa e nos EUA está por volta de 15%.


O Brasil, além das crises sanitária e econômica, viveu também uma crise política nos últimos meses. O fato de o governo federal de certa forma negar a pandemia nos prejudicou ainda mais?

Infelizmente, sim. Ficou fácil de ver que os dois piores de casos de contaminação e óbitos pelo coronavírus são o Brasil e os EUA, ambos com líderes que negaram a pandemia. O negacionismo na área federal é espantoso. Isso é um pedaço do custo (que vamos pagar). Uma das formas de olhar isso é a oscilação do dólar no Brasil, que é maior do que na média dos emergentes. Essa volatilidade vem da incerteza. É lamentável que tenha sido assim.


Com o aumento do desalento (pessoas que desistem de procurar empregos), a questão da produtividade fica ainda mais prejudicada?

Sim. Mas, por outro lado, se você olhar os segmentos que estão desempenhando melhor durante a pandemia -- agronegócio, logística, sistema financeiro, comércio eletrônico e as telecomunicações --, há um denominador comum. Todos têm uma história de investimento que melhora a tecnologia e a produtividade. E algumas situações adversas da pandemia trazem resultados. Por exemplo, o trabalho à distância e os serviços à distância. O resultado de cortes de custos para as empresas é relevante. São coisas microeconômicas fundamentais porque conseguem mexer com a produtividade da economia em um prazo relativamente curto.


Dá para pensar ainda em reformas estruturantes na situação atual?

Acho que temos de ter um horizonte para fazer, mas as reformas não podem ser pré-condição para as outras medidas. Não vejo espaço, concretamente, para a discussão da reforma tributária nesse momento. As concessões e privatizações são mais factíveis e podem trazer resultados ais concretos. Eu acho mais relevante a reforma administrativa do setor público, que dá mais resultado no curto prazo e já está atrasada. Eu sei que o lobby é complicado, mas acho que tem de colocar as coisas na ordem adequada.
Fernando Scheller e Mônica Scaramuzzo
Fonte: Estadão
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