União Nacional da Bioenergia

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Diversas

Brasil tem capacidade de ofertar biocombustíveis e alimentos sem destruir o meio ambiente
Setor de transporte seria beneficiado, mas precisaria de ações complementares
Publicado em 21/06/2021 às 08h24
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Estudo divulgado pelo WWF-Brasil reafirma a importância do uso de biocombustíveis para combate à crise climática e em especial para o setor de transporte, que representa cerca de um quarto de todas as emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) no mundo (UNEP, 2019). O levantamento apontou que o Brasil tem capacidade de produzir biocombustíveis sem comprometer a oferta de alimentos e a preservação dos habitats naturais, mas apesar de ter potencial elevado, o país não é capaz de suprir toda a demanda do setor de transportes brasileiro, o que demandaria ações alternativas e complementares.

Mesmo sendo o país com maior participação de biocombustíveis nos transportes do mundo, o Brasil ainda tem grande dependência de combustíveis fósseis, basta recordar a greve dos caminhoneiros contra a alta do preço dos combustíveis, em 2019. Neste cenário, os biocombustíveis se configuram como uma opção para combater a crise climática, pois emitem menos gases de efeito estufa e também podem ser vistos como uma segurança frente a uma possível crise escassez do petróleo.

Os pesquisadores buscaram responder até que ponto é possível tornar a matriz de combustíveis mais renovável e reduzir as emissões de carbono sem causar mais desmatamento e prejudicar a segurança alimentar. Para isso, idealizaram dois cenários: o primeiro focado no agronegócio, focando a produção nas commodities e monoculturas atuais e, o segundo, alternativo, aumentando a importância da participação de culturas pouco exploradas atualmente, mas que oferecem maior rendimento na produção.

Como ponto de partida, consideraram o potencial de produção de biocombustíveis em 2030, último ano para atingir as metas propostas na primeira NDC21 brasileira; as projeções conservadoras de aumento de rendimento na produção, diversificação de culturas e outras fontes de biomassa; a área disponível para produção de biocombustíveis e, ainda, a área necessária para a expansão de alimentos.

A conclusão é que o aumento da produtividade das áreas de pastagens (cerca de 170 milhões) liberaria cerca de 36 milhões de hectares para cultivos em geral, área mais que suficiente para acomodar a expansão da produção de alimentos e de biocombustíveis por várias décadas. No entanto, alertaram que esse possível aumento pode acarretar possíveis impactos, como o aumento do desmatamento. Por isso, é fundamental aplicar e aperfeiçoar os mecanismos existentes de controle do uso da terra, como o CAR (Cadastro Ambiental Rural) e o Zoneamento Agroecológico.

Ricardo Fujii, analista de conservação do WWF-Brasil alerta: "A adoção deste tipo de combustível não pode correr o risco de gerar mais desmatamento, se apropriar de terras que poderiam ser destinadas à produção de alimentos e à restauração florestal ou mesmo causar mais impactos frente ao desafio das mudanças climáticas. Caso isso aconteça, suas vantagens caem por terra e ao invés de serem parte da solução correm o risco de piorar o problema", ressalta.

Entre os cenários avaliados, o que apresentou maior capacidade de atender a demanda de todos os combustíveis líquidos foi o cenário alternativo, que privilegia as culturas de palma e macaúba, representando maiores benefícios para o meio ambiente pois abre espaço para o cultivo de plantas nativas e que podem ser cultivadas em conjunto com outras culturas em SAFs (Sistemas Agroflorestais) ou ILPFs (Sistemas Lavoura-Pecuária-Floresta), sem prejuízo para sua produção.

Na avaliação, o potencial de produção de biocombustíveis é menor naquele em que as commodities atuais são priorizadas, já que a produtividade de combustível dessas culturas por área é inferior à dos outros cultivos. Observou-se também um alto potencial de produção de biodiesel e biogás a partir de resíduos, que em termos ambientais são os mais vantajosos.

Nos cenários analisados, mesmo priorizando-se a produção de etanol e biodiesel, não seria possível atender a demanda total da frota brasileira de veículos rodoviários. Por outro lado, é possível atender a demanda por QAV e GNV por meio da produção de bioquerosene e biometano. Este pode, inclusive, ser melhor aproveitado: o biometano pode ser o combustível na frota de veículos leves e pesados utilizados no setor agropecuário, eliminando a necessidade de criação de uma extensa rede de distribuição. O biometano também pode ser utilizado em outras atividades, substituindo gás natural tanto em regiões rurais como urbanas.

Para Fujii, a adoção de combustíveis renováveis é um passo necessário em direção à sustentabilidade energética no longo prazo. "A utilização de biocombustíveis não é solução definitiva ou a única alternativa. Neste momento ela se mostra como opção atrativa para a redução das emissões do setor de transportes, mas ações complementares como a diversificação de modais, expansões do uso de ferrovias e hidrovias, aumento da eficiência energética veicular e expansão do transporte público são alternativas complementares", finaliza.

Soluções para controlar o impacto dos biocombustíveis

É possível aumentar a produção dos biocombustíveis sem a necessidade de expandir a área cultivada, evitando a escassez de alimentos e o comprometimento dos biomas brasileiros. Grandes esforços têm sido feitos no sentido de aumentar tanto a produtividade na fase agrícola (t/ha) quanto na fase industrial, quando a biomassa é transformada em biocombustível (L/t).

O aumento da produtividade pode ser oriundo de melhorias incrementais, relacionadas à seleção de variedades de cultivos mais apropriados ao processamento (cana com maior teor de açúcar, por exemplo) e aprimoramento dos processos produtivos, especialmente na produção de bioquerosene e biodiesel, casos em que as cadeias produtivas são mais recentes.

Outra opção é a utilização de matérias-primas alternativas. Um exemplo é a macaúba, espécie nativa de palmeira que apresenta um rendimento muito maior do que a soja na produção do óleo (4000 kg/ha comparado aos 500 kg/ha da soja) e que pode ser convertida em bioquerosene e biodiesel16. Em muitos casos, tais culturas podem ser integradas em ILPFs, otimizando o uso do solo com benefícios para a produtividade e resiliência da terra.

O aumento de produtividade também pode se dar na pecuária, a qual atualmente responde com suas pastagens por 70% da terra agriculturável ocupada no país. À medida que a produtividade da pecuária aumentar, haverá liberação de espaço para cultivo de alimentos e biocombustíveis.

Pode-se ainda aumentar o aproveitamento energético de resíduos urbanos e agropecuários, inclusive para a produção de biocombustíveis19. Esse tipo de matéria-prima é particularmente interessante do ponto de vista ambiental pois, além de contribuir para o aporte energético, também diminui o montante de lixo e poluentes depositados no ambiente.

WWF-Brasil
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