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Fórum de Articulistas

Vendas de Hidratado Permanecem Menores, por Marcos Fava Neves
Boletim Cana30: resumo de maio/junho e os pontos selecionados para julho
Publicado em 28/06/2022 às 16h01
Foto Notícia
Na cana, a moagem de cana-de-açúcar alcançou o valor acumulado de 107,13 milhões de t desde o início do ciclo 2022/23 até 01 de junho, variação negativa de 17,88% em comparação ao mesmo período de 2021, revelando um atraso nas operações, de acordo com o levantamento quinzenal da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). 248 unidades estão em operação até então nesta safra, enquanto que na anterior o número era de 249.

Com relação à qualidade da matéria-prima, o ATR acumulado registrou valor de 122,11 kg/t, refletindo queda de 4,99%. Por sua vez, o mix de produção está em 59,48% para o etanol e 40,52% para o açúcar, com o biocombustível ganhando participação de 4,50 pontos percentuais sobre o adoçante em relação a 2020/21 em consequência da melhor remuneração visto o cenário de preços dos combustíveis.

De acordo com o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), considerando uma amostra de 68 usinas e o período da segunda quinzena de maio, a produtividade das lavouras de cana ficou estável na comparação com o mesmo período do ano anterior, ou seja, 74,8 t/ha.

No monitoramento do mercado de Créditos de Descarbonização (CBios), até o dia 08 de junho, as distribuidoras já haviam adquirido 19,36 milhões de títulos, o que corresponde a 52,72% da meta de 2022.

O setor sucroenergético deve passar um novo processo de consolidação nos próximos anos. Com a retomada de bons índices de lucratividade nas três últimas safras, devido aos preços atrativos ora do açúcar ora do etanol, investidores devem apostar em fusões e aquisições par melhoria da eficiência operacional e redução da capacidade ociosa ainda existente. Estima-se que as unidades do Centro-Sul tenham capacidade de processamento de 850 milhões de t, mas a moagem esperada para este ciclo é entre 530 a 540 milhões de t. Esse otimismo também é pautado na forte demanda por energias de fontes mais limpas, o que deve trazer novas oportunidades de negócios para o setor e auxiliar a posicionar o Brasil cada vez mais como um dos maiores exportadores de açúcar e bioenergia do mundo.

Visando a produção de um etanol mais sustentável, a Dedini vem apostando fortemente na integração de tecnologias para mitigação das emissões de gases do efeito estufa. A USD (Usina Sustentável Dedini) é a materialização desse ideal, atuando em duas frentes: otimização, utilizando a mínima quantidade de insumos e matérias-primas; e conceito zero, evitando a geração de resíduos e efluentes. Dessa forma, a unidade é capaz de evitar a emissão de três kg de CO2 por litro de etanol equivalente, enquanto as demais usinas conseguem apenas dois. Sustentabilidade na veia!

Outro caso bastante promissor da linha da bioeconomia: A BP Bunge vem reduzindo sua dependência de fertilizantes químicos e apostando nos subprodutos da atividade como fonte de nutrientes aos canaviais. A vinhaça, já presente em 65% da área, deve intensificar sua participação como fonte de cloreto de potássio, alcançando 95% das áreas em 2025. Os benefícios relatados vão além da substituição do adubo químico, com o aumento da produtividade (3 a 10 t/ha) e maior longevidade do canavial. Outra iniciativa é a utilização da compostagem da torta de filtro e das cinzas do bagaço ao invés dos adubos fosfatados no plantio. A empresa também aumentou a adoção de biofertilizantes, como Azospirillum brasilense, bactérias que auxiliam no desenvolvimento da planta e no ganho de produtividade.

A Pedra Agroindustrial informou que poderá ampliar em 10 milhões de t a sua capacidade de moagem com a aquisição de duas novas usinas na região de Paranaíba, no Mato Grosso do Sul. Atualmente, o grupo, que tem 3 usinas em São Paulo, possui capacidade de moer 10,5 milhões de t de cada por safra, e deve quase que dobrar esta capacidade com as novas unidades. Para abastecê-las, a empresa informou que terá de plantar entre 120 a 140 mil novos hectares com a cultura na região.

No açúcar, com a moagem de cana-de-açúcar atrasada, a fabricação de adoçante fechou os dois primeiros meses da safra 2022/23 em 5,05 milhões de t, uma queda de 29,78% frente às 7,19 milhões de t do ciclo anterior, segundo a Unica. Mais matéria-prima tem sido destinada à etanol, o que ajuda a explicar o resultado: 855 mil t do adoçante deixaram se ser fabricadas até então devido à mudança no mix.

Segundo a Archer Consulting, a fixação de açúcar em Nova York está sendo reduzida, em vista das incertezas sobre o mercado de combustíveis no Brasil, já que o governo tem se movimentado para alterar a tributação destes produtos e reduzir os custos para os consumidores. Até o final de maio de 2022, haviam sido fixados 4,6 milhões de t, a preço médio de 17,40 centavos de dólar por libra-peso, sem prêmio de polarização. Este volume corresponde a 19,3% dos embarques estimados para 2023/24; em abril estava em 15%.

E por falar em exportações, em maio, foram embarcados 1,58 milhão de t de açúcar, volume 36,3% menor que as 2,48 milhões de t no mesmo mês de 2021. Com isto, o volume médio diário exportado do adoçante ficou em 71,8 mil t, e o preço médio mensal em US$ 379,90 por tonelada ( 16,3). A receita total para o mês de maio ficou em torno de US$ 600 milhões (-25,0%); dados foram divulgados pela Agência Safras.

A Índia deve ter produção recorde de açúcar de 36 milhões de t na safra 2021/22, superando a expectativa do mercado em 3%, segundo apurado pela Associação Indiana de Usinas de Açúcar (ISMA). Com isso o país terá condições de recompor seus estoques do adoçante e de aumentar o teto limite de exportações imposto pelo governo no começo da temporada, de 10 para 11 milhões de t. Esse excedente pode balançar os preços internacionais para baixo visto a maior oferta.

No etanol, de acordo com a Unica, a produção acumulada de etanol de 1 de abril até 1 de junho alcançou 5,17 bilhões de litros, queda de 12,25% em comparação ao mesmo período de 2021. Deste total, 3,56 bilhões de litros são de hidratado (-11,91%) e o 1,61 bilhão restante corresponde ao anidro (-12,98%). O biocombustível produzido a partir do milho já totaliza 596,38 milhões de litros, representando pouco mais de 10% do volume total e com avanço de 26,14% em comparação ao mesmo período do ciclo passado.

Por sua vez, as vendas de etanol somaram 2,34 bilhões de litros em maio, queda de 7,13% em relação ao mesmo mês de 2021. Com isso, nos dois primeiros meses da safra a comercialização alcançou 4,57 bilhões de litros (-2,53%). Do volume total vendido no mercado doméstico, 2,78 bilhões de litros se referem ao tipo hidratado (-7,22%) e 1,58 bilhão de litros do anidro, ( 7,10%).

Em torno de toda a confusão que estamos vendo com a crise de preços de combustíveis, uma PEC (Projeto de Emenda à Constituição) está sendo elaborada e deve tramitar no congresso brasileiro a fim de manter a competitividade do etanol diante das reduções de tributos sobre os outros combustíveis. A ideia é a criação de um mecanismo que compense o preço do etanol frente as reduções que cada estado fizer a gasolina, mantendo o preço do biocombustível em patamar competitivo. A Câmara dos Deputados aprovou um projeto que determina maior transparência na composição dos preços dos combustíveis. Dessa forma, cada agente da cadeia deverá reportar sua participação no preço final ao consumidor à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a qual tornará essas informações públicas. A proposta segue agora para aprovação no Senado.

Os Estados Unidos intensificaram suas exportações de etanol no mês de abril, totalizando embarques de 701 milhões de litros, 48% acima do indicador de março e o terceiro maior volume já constatado para um único mês, de acordo com a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA). O Brasil comprou 113,55 milhões de litros dos norte-americanos, sendo o maior volume mensal nos últimos dois anos. A grande mensagem aqui é a demanda aquecida pelo biocombustível no âmbito internacional e nacional e a dificuldade interna em suprir tal demanda visto a atraso na moagem. Ainda considerando o cenário nos Estados Unidos, o governo estabeleceu novo mandato da mistura de biocombustíveis aos combustíveis fósseis para o ano de 2022. Com isso, o volume em mistura de combustível renovável deve ser de 78,09 bilhões de litros, maior obrigação já definida pelo programa dos norte-americanos. A medida visa trazer maior segurança energética ao país, reduzindo sua dependência pelo petróleo.

Seguindo seus planos de redução no consumo de combustíveis fósseis, a Volkswagen anunciou que irá utilizar biometano em suas fábricas de Taubaté e São Bernardo do Campo. Segundo a montadora, as unidades deverão consumir 50 mil m³ do biocombustível por dia a partir de 2023 e 2024. A substituição reduzirá em mais de 90% as emissões de dióxido de carbono em comparação ao gás natural. O mais interessante disso tudo é que o biometano será adquirido da Raizen, produzido a partir da vinhaça!

E fechando a análise do etanol, de acordo com informativo da SCA Etanol do Brasil de 27 de junho, os preços do hidratado estavam em: R$ 3,53/litro em Ribeirão Preto -- SP; R$ 3,50/litro em Araçatuba -- SP; R$ 3,51/litro em São José do Rio Preto -- SP; e R$ 3,54/litro considerando a entrega em Paulínia. Nos estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul, os preços para consumo dentro do estado ficaram em R$ 3,65/litro, R$ 3,52/litro, R$ 3,46/litro e R$ 3,42/litro, respectivamente.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em julho na cadeia da cana:

1. Desdobramentos de políticas públicas relacionadas aos biocombustíveis no Brasil. Temos diversas iniciativas rondando o Legislativo desde a PEC sobre competitividade dos biocombustíveis, projetos de lei de maior transparência nos preços e a MP da venda direta. A primeira pauta é a de caráter mais urgente e poderá auxiliar a reverter o cenário de queda de consumo.

2. Evolução da moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul. Seguimos atrasados com a moagem em relação ao ciclo passado, o que implica em menor oferta de produtos no mercado. Além disso, seguir acompanhando o nosso desempenho produtivo (ATR, produtividade e outros), indicadores que são determinantes para bons resultados no setor.

3. Vendas do etanol hidratado para o mercado interno. Em maio, as usinas venderam 9,18% menos hidratado na comparação com o mesmo mês de 2021. Já é o segundo mês consecutivo de redução, o que acende o sinal de alerta, considerando os preços praticados e a paridade com a gasolina. Em 20/05, o indicador do etanol hidratado São Paulo (Cepea/USP) estava em R$ 3,35/litro; já no dia 24/06, a cotação foi de R$ 3,06/litro (-8,6%).

4. Posicionamento da Índia frente às exportações de açúcar. Com uma safra recorde por vir, o país asiático poderá ampliar o teto de exportações, o qual estava limitado em 10 milhões de t. Os rumores do aumento para 11 milhões de t já devem causar interferências nos preços.

5. Acompanhar o clima na região Centro-Sul. As previsões indicam que novas frentes frias devem passar pela região nos próximos dias e, como sabemos, este foi um dos grandes problemas que tivemos na última safra, ocasionando as geadas. Vamos ficar na torcida para que não tenhamos prejuízos!

Valor do ATR - iniciamos a safra 2022/23 com o valor do ATR em R$ 1,2453/kg em abril. No mês passado (maio), o preço recuou um pouco e ficou em R$ 1,2212/kg. Com isto, o acumulado deste ciclo (média dos 2 meses) está em R$ 1,2330/kg, valor ainda bem acima da média do ciclo passado (R$ 1,1792/kg), mas ainda cedo pra dizer que ficará neste patamar. Nossa previsão é de que fique em torno de R$ 1,13/kg até o final desta safra, no acumulado.


Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e no MarketClub Sicoob Credicitrus, a quem agradeço ao apoio para elaborar este texto, bem como a co-autoria do Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva.
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