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Diversas

Após recuos de Doria, Alesp aprova projeto de ajuste fiscal
Publicado em 14/10/2020 às 11h17
Após mais de duas semanas de embates entre governo e oposição e recuos do governo Doria, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou no início da madrugada desta quarta-feira (14) o texto-base do pacote de ajuste fiscal para 2021. O texto substitutivo do relator especial designado, Alex de Madureira (PSD), teve 48 votos a favor e 37 contra.

Os deputados, porém, ainda irão votar os destaques, que são trechos que podem ser retirados da proposta original. A sessão foi encerrada por volta de 0h40 e a próxima sessão extraordinária ainda não tem data para ocorrer.

O governo alega que o ajuste fiscal é necessário para conter um rombo de R$ 10,4 bilhões no orçamento de 2021. A proposta aumenta impostos e extingue órgãos públicos, autorizando a demissão de 5.600 servidores.

Para conseguir aprovar o ajuste e conquistar votos, a gestão tucana recuou em pontos polêmicos do texto, através de um substitutivo apresentado pelo líder do governo na Alesp, Carlão Pignatari (PSDB).

Foi retirada do texto, por exemplo, a proposta de extinção de 4 empresas públicas e pontos que levavam ao aumento do Imposto de Transmissão de Causa Mortis e Doação (ITCMD). Outras, como a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), continuam com a previsão de serem extintas pelo projeto.

Foi retirado do texto também a obrigação de retirar a sobra orçamentária das universidades estaduais e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) de 2019, que seriam destinadas à conta única do Tesouro, e agora continuarão com as entidades.

Alvo de críticas de professores e da comunidade científica, esta parte da proposta já havia sido alterada, já que antes previa retirar este caixa também a partir de 2020 e tinha se restringido a 2019.


Veja as mudanças feitas no ajuste fiscal pelo governo para conseguir a aprovação:

- Empresas: retirada, do projeto, de 4 das 10 empresas e órgãos que seriam extintos e que, agora, não serão mais: Fundação Oncocentro (Fosp), Fundação para o Remédio Popular (Furp), Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc) e Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp).

- Imposto de Transmissão de Causa Mortis e Doação (ITCMD): a) retira a proibição do pagamento parcelado em até 12 meses e; b) retirada da obrigação de pagamento adicional do imposto em caso de doação com reserva de usufruto (quando o bem é doado mas o doador permanece morando ou usando o bem até morrer).

- Fundo da PM e do Corpo de Bombeiros: retirada do texto a proposta do governo usar o dinheiro destes órgãos, que também seria destinada à conta única do Tesouro.

- Fundos de universidades e da Fapesp: Retirada total do artigo que previa a destinação de superávits dos fundos de pesquisa e das universidades de 2019 e anos seguintes para o orçamento de 2021. A proposta era descontar o valor desses superávits do repasse anual obrigatório de 2021 que o governo fará a esses órgãos com base na arrecadação do ICMS.


Trâmite com alterações

Após duas tentativas, em vão, de levar o texto a discussão na Comissão de Constituição e Justiça e Redação (CCJR), da Alesp, que não conseguiu analisar o texto por falta de quórum, o presidente da Casa, Cauê Macris (PSDB), que, no início da análise, há três meses, não facilitou a tramitação, aproveitou uma brecha no regimento interno e levou o texto direto à plenário para votação.

Foram realizadas, nas três últimas semanas, sessões extraordinárias para tentar votar o projeto, mas nenhuma delas teve o quórum mínimo de 48 deputados para iniciar a votação. A falta de consenso sobre a proposta e ataques de que o texto era inconstitucional e aumentava impostos levou à formação de uma aliança inédita entre legendas antagônicas, como PT, PSL, PSOL e Novo, contra o projeto do governo tucano.


Tramitação

O texto do projeto de lei 529/2020 foi enviado pelo governador, João Dória (PSDB), em 12 de agosto e devia ter sido aprovado até 30 de setembro para integrar a lei orçamentária enviada à Casa naquele dia pelo governo, e que prevê o que vai ser arrecadado e no que será possível gastar no próximo ano.

O projeto entrou em debate na semana passada no plenário da Alesp em regime de urgência, após não conseguir ser analisado nas comissões, por falta de quórum.


Veja abaixo quatro pontos que contribuíram para a derrota temporária do governo na tramitação do projeto na Alesp:

1. Reação das universidades
O texto original do texto previa o corte do superávits financeiros de fundações estaduais, incluindo a Fundação Estadual de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e de universidades, como a USP, da Unicamp e Unesp, e o envio do dinheiro para o Tesouro. Houve críticas da comunidade científica, que argumentaram ser a lei um ataque à autonomia financeira das entidades e que iria paralisar até pesquisas em andamento sobre a Covid-19.

Após essa reação, o governo desistiu em parte da ideia e o líder tucano na Casa, deputado Carlão Pignatari, propôs limitar a transferência dos superávits ao orçamento de 2019.

2. Falta de articulação política
Mesmo o governo João Doria tendo maioria na Alesp, a exemplo das administrações anteriores do Palácio dos Bandeirantes, a nomeação de um relator para o projeto de lei de ajuste fiscal levou mais tempo do que o previsto: 35 dias. O nome escolhido pelo presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR), Mauro Bragato (PSDB), foi Carlão Pignatari (PSDB), líder do governo.

Eles tentaram por duas vezes colocar em discussão o texto na CCJR, mas não foi possível por falta de quórum.

Deputados da base governista demonstram preocupação com a lentidão da tramitação do projeto, que o Palácio dos Bandeirantes contava que seria aprovado até 30 de setembro. Dada a falta de quórum na comissão, Macris nomeou o deputado Alex de Madureira (PSD), da base do governo, relator especial do projeto de lei, para levá-lo ao plenário diretamente.

3. Disputa eleitoral
As eleições municipais deste ano também contribuíram para o projeto não deslanchar. "Não dá para descartar o processo eleitoral como um fio condutor disso. Além do governo insistir com essa pauta em um momento como esse", diz Paulo Fiorilo (PT), integrante da Comissão de Finanças, Orçamento e Planejamento da Alesp.

Votar a favor de um projeto que extingue estatais e propõe um plano de demissão voluntária no governo do estado é visto por alguns parlamentares como algo que pode fazê-los perder votos nesta eleição. Dez deputados estaduais disputarão diferentes prefeituras, sendo dois deles na capital paulista.

Ajuste fiscal em SP: entenda as principais medidas e os pontos polêmicos


4. Os pontos que uniram os diferentes
Reunir em um mesmo projeto de lei medidas de naturezas tão diferentes, como aumento de impostos e extinção de estatais, e com variados impactos orçamentários, uniu bancadas que não costumam votar de forma alinhada.

Deputados do Novo atacaram, durante essa semana, a redução de benefícios fiscais, entendida como uma alta da carga tributária. Para os petistas, a extinção das estatais, como a CDHU, por criar unidades de moradia para a população de baixa renda, foi um fator que contou na obstrução.

Já a ala bolsonarista do PSL integra a oposição mais radical a João Doria dentro da Alesp: um grupo ativo nas redes sociais, que já propôs vários pedidos de impeachment contra o governador.

Na votação desta semana, dos 14 deputados do PSL, 11 obstruíram a votação; todos os dez parlamentares do PT se utilizaram da mesma manobra.

Na oposição, a estratégia seguirá sendo obstruir. Esses parlamentares comparam a hipótese de o projeto ser definitivamente barrado com a vitória, em 2005, do então deputado Rodrigo Garcia, à época no PFL, para a presidência da Casa, contra Edson Aparecido, do PSDB, por 48 a 46 votos. Garcia é hoje vice-governador e principal articulador político de Doria para a aprovação do texto.
Léo Arcoverde, Tahiane Stochero e Carolina Giancola
Fonte: g1
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