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As mudanças climáticas e o seguro rural - Por: Jacyr Costa Filho
Menos de 10% da área plantada no Brasil está protegida com uma apólice, o que coloca em risco a nossa segurança alimentar e a nossa balança comercial
Publicado em 10/05/2024 às 09h35
Foto Notícia
Os eventos climáticos extremos estão mais frequentes, como os que estamos assistindo com muita tristeza assolarem o Rio Grande do Sul, e trazem à baila uma importante discussão que envolve produtores, seguradoras e o governo: o seguro rural. Sabemos que as ocorrências não vão parar. Intempéries extremas, como estiagens prolongadas, geadas e inundações, fizeram a taxa de sinistralidade disparar em 2021 e 2022, elevando os preços dos seguros em cerca de 40%.

Por outro lado, neste ano o governo reduziu a verba da subvenção aos prêmios do seguro rural. As entidades do setor reivindicam que seria necessário um orçamento de cerca de R$ 3 bilhões – três vezes maior do que o destinado pelo governo – para poder fazer frente às necessidades dos produtores com o aumento dos riscos esperados com a La Niña no segundo semestre deste ano. Se me perdoam pelo trocadilho, criou-se a tempestade perfeita. O resultado temos acompanhado: sem seguro, aumentam os riscos de produtores não conseguirem pagar suas dívidas, levando ao crescimento de casos de pedidos de recuperação judicial.

O tema é de suma importância já que está diretamente ligado à questão da segurança alimentar. E não é preciso análises aprofundadas para se constatar que um país reconhecido como um dos maiores fornecedores de alimentos do mundo, como é o caso do Brasil, precisa de um arcabouço de seguro rural muito mais robusto do que o que temos hoje. 

Menos de 10% da área plantada no Brasil está protegida com uma apólice, o que coloca em risco a nossa segurança alimentar e a nossa balança comercial. Países com políticas agrícolas avançadas têm uma forte subvenção do Estado para cobrir os prêmios do seguro rural, pois sabem que é mais econômico e sustentável prevenir que custear as perdas de produção. Os Estados Unidos bancam 63% do valor do prêmio; a China, 80%; e a Índia, 87%. A Índia adotou, com sucesso, uma agressiva política de subvenção com o objetivo de ampliar este mercado, multiplicando por quatro o valor subvencionado a partir de 2015. Enquanto isso, no Brasil, o maior exportador de produtos agropecuários do mundo em 2023, este percentual não passa de 30%. 

Sabemos que o orçamento da União tem restrições. Mas é preciso encarar as adversidades decorrentes das mudanças climáticas de frente e melhorar não apenas o orçamento disponível, mas também garantir, por meio de regulamentação adequada, o amadurecimento deste mercado. 

A evolução do seguro rural passa também pela necessidade de se melhorar os modelos de seguros e de gestão de risco para estarem mais adequados às características brasileiras. A aplicação de alta tecnologia, Internet das Coisas (IoT) e inteligência artificial, já uma realidade no campo, podem e devem ser levadas para o universo dos seguros, criando modelos inovadores baseados em dados estruturados e consistentes, não apenas na análise das séries históricas. 

Os impactos das mudanças climáticas não vão diminuir no curto prazo. É importante garantirmos a previsibilidade e a gestão administrada dos riscos para não prejudicarmos a produtividade e a sustentabilidade do agro. O efeito cascata destes impactos é enorme: cada vez que a safra de um produtor rural é ameaçada por uma adversidade climática, as consequências são sentidas, tirando renda das comunidades mais necessitadas e aumentando a inflação dos alimentos.
 
Jacyr Costa Filho
Presidente do Cosag - Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da consultoria Agroadvice
Fonte: Diário da Região
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