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Curiosidades

Eles construíram a história da humanidade: o êxito do sal e do açúcar
Publicado em 06/09/2017 às 09h13
Imaginem um mundo sem sal e açúcar. É o equivalente a um mundo insípido. Em todos os continentes, a partir do momento em que os humanos iniciaram o cultivo de plantações, começaram a procurar sal para acrescentar à sua alimentação. Como ficaram sabendo dessa necessidade é um mistério. Uma vítima de inanição sente fome, por isso a necessidade de alimentos é evidente. A deficiência de sal causa dores de cabeça e fraqueza, depois tontura e náusea. Se a privação persiste por muito tempo, a vítima morre. Mas em nenhum momento desse processo há o desejo de comer sal.

Outro avanço que originou a necessidade de comer sal foi a criação de animais para o abate, em vez de caçar para comer. Os animais também precisam de sal. Aliás, o provável primeiro método para os humanos conseguirem sal era seguir o rastro dos animais, que acabavam levando a alguma jazida na superfície ou a uma nascente de água salgada. Os animais domesticados deixaram de oferece esse "caminho" para os humanos. Pelo contrário, eles necessitam que lhe deem sal. O cavalo chega a necessitar cinco vezes mais sal que o ser humano. A vaca, dez vezes. O sal foi motivo de guerras e desavenças ao longo da história. É possível contar a história da humanidade estudando o sal.

Tal como o sal, o açúcar também foi motivo de disputas sangrentas. Até onde conhecemos, o "sal da Índia", como o açúcar foi inicialmente conhecido, teve sua origem na Nova Guiné. De lá a cana-de-açúcar foi para a Índia e fez a fama e riqueza de muitos povos, especialmente dos brasileiros. No livro dos Vedas há um trecho curioso: "Esta planta brotou do mel; com mel a arrancamos; nasceu a doçura... Eu te enlaço com uma grinalda de cana-de-açúcar, para que não me sejas esquiva, para que te enamores de mim, para que não me sejas infiel". O Ocidente só foi tomar conhecimento da existência do açúcar com a chegada dos generais de Alexandre, o Grande na Índia.


A ascensão do sal no mundo


Apesar das objeções médicas, o sal é produto fundamental à saúde humana. Fornece cloreto e sódio, substancias essências ao equilíbrio do corpo. O sal já provocou mais disputas, revoluções e guerras do que a prata, o ouro e as pedras preciosas somadas. Além disso, a humanidade o envolve em simbolismos, pois sempre atiçou a magia dos povos.
Os gregos o usavam nas oferendas religiosas. Os romanos o ministravam ao recém-nascido para despertar a sabedoria. Os hebreus achavam que o demônio contaminava o alimento não temperado com ele. "Sois o sal da terra", disse Jesus aos apóstolos. Eles seriam, tal como o sal, os difusores do exemplo e do ensinamento divinos. O sal está na liturgia do batismo. O padre o toma na mão e faz a criança provar uma pitada de sal. Feiticeiro e bruxa não pisam o sal, diz a crendice. No Antigo Testamento, os conquistadores o espalhavam sobre as ruínas da cidade destruída: "Terra salgada".

O sal também estabelece vínculo de fidelidade. Pode ser afrodisíaco. Nos tempos bíblicos, era selo de amizade. Na Idade Média, as mulheres esfregavam sal nos corpos dos maridos para torna-los mais viris. Não a toa, os romanos foram conquistar a Palestina por causa do Mar Morto, a maior jazida conhecida de sal da época. Não por acaso, a palavra "salário" deriva de "sal". Os soldados romanos recebiam o sal como pagamento de seu trabalho. "Preço salgado" é o mesmo que alto.

Até a Idade Média, o sal era utilizado em tudo. Acrescentavam-no inclusive ao vinho e à cerveja. Adivinhem como eram cobrados os impostos? Com sal, é claro. Os senhores feudais e os reis fixavam um pesado imposto sobre o sal. Cobravam nas duas pontas: do comerciante e do consumidor. Com a sonegação aumentando, impunham a aquisição de uma certa quantidade de sal. Uma das revoluções mais sanguinolentas da história, a Revolução Francesa, teve como causa original - o sal, é claro. Na Itália, era monopólio governamental até o fim do século passado. Era vendido nas tabacarias, outro produto que foi fundamental ao dar início à globalização (como contado nesta coluna). Ainda não foram retiradas da fachada de algumas lojas italianas as velhas placas com um grande "T", onde se anuncia "sali" e " tabacchi". As salinas de Cervia, na Emília Romagna, rendiam mais dinheiro ao Papa do que as esmolas dos fiéis. Era o sal que os italianos de Veneza levavam a Constantinopla para trocar por especiarias, que valiam mais que ouro. Era um sal escuro. As pessoas tinham de beneficiá-lo antes do uso.


O açúcar possibilitou a existência da Revolução Industrial

Na Idade Média, o açúcar era um artigo de luxo que, escasso na Europa, era importado do Oriente a preços exorbitantes. Só vendiam o açúcar em pequeníssimas "doses". Na forma de medicamentos e pequenas balas. Tudo mudou com a conquista das Américas. As novas plantações de cana-de-açúcar facilitaram à Europa a aquisição de milhares de toneladas da antiga "delicatesse". O preço baixou radicalmente e a Europa desenvolveu um insaciável gosto pelos doces: tortas, chocolates, caramelos, bebidas açucaradas, café, chá, vinho... quase tudo passou a levar açúcar. A ingestão anual de açúcar de um inglês passou de zero - no século XVII - a oito quilos antes da Revolução Industrial. No final do século XX, a média mundial alcançou 70 quilos por ano.

O açúcar era demasiado caro por causa do trabalho para produzi-lo. Era considerado o trabalho mais difícil da época. E sua produção recaia em cima de uma mão de obra bem paga no Oriente. A mudança na América foi a utilização da mão de obra escrava. A escravidão era um tráfico tão importante que vendiam ações nas Bolsas de Londres, Paris e Amsterdã. Era um investimento seguro. Ao longo do século XVIII, o rendimento dessas ações rondava a 6%. Em 400 anos, mais de 10 milhões de escravos africanos foram levados às Américas. Dois milhões, para a América Latina. Foram 280 mil mortos só na travessia transatlântica. Nos engenhos, eles trabalhavam 16 horas por dia. A média de vida raramente ultrapassava os 20 anos.

O lado do cinismo é grandiloquente. Ainda que o papa Pio II tenha comparado a escravidão com o crime, os padres estavam entre os maiores clientes dos navios negreiros. Cuba, nessa época, era a maior produtora de açúcar do mundo. Sua população era constituída por 43% de escravos. Foi essa riqueza estratosférica proporcionada pelo açúcar que constitui a base da Revolução Industrial.


Revolta do sal no Brasil

Com a chegada dos portugueses, a produção de sal foi proibida no país. Era um instrumento fundamental para o reino vender e taxar o produto com a finalidade de dominar os negócios e levar dinheiro para a metrópole. Mas esse monopólio é motivo de pressões, em alguns momentos o governo português cede a elas e em outras, arroxa a população. Apesar dos esforços do governo, em verdade, o sal continuou a ser produzido no Brasil. Nesse vai e vem, nessa "terra de ninguém", onde tudo é possível, tudo mudou em 1631, ano em que é editada uma lei de Monopólio do Sal, que era transportado através do porto de Santos. Passava a ser definitivo, o sal, produzido no Brasil ou em Portugal, era de exclusividade do governo. Em 1710, Bartolomeu Fernandes de Faria, proprietário de terras paulista reúne um grupo de aproximadamente 200 índios e escravos, e após armá-los fortemente, incita-os a invadir o porto de Santos, saquear o sal e distribuí-lo para os consumidores. Para fugir da ação dos que foram lesados com a revolta, Bartolomeu ordenou a destruição da ponte que ligava a ilha de São Vicente a Santos. A Coroa desmoralizada pela astúcia do gesto e lesada pelos prejuízos, irá perseguir Bartolomeu Faria, tornando-o o proscrito mais procurado em toda a América Portuguesa. Bartolomeu constrói um fortim em sua fazenda, defendido por índios e escravos que não resiste às tropas governamentais comandadas pelo juiz Antônio da Cunha, mas ele consegue fugir. Irá refugiar-se no Vale do Ribeira, onde continuará com o juiz em seu encalço. Só oito anos após a Revolta do Sal, Bartolomeu seria preso por tropas comandadas pelo Governador de Santos, Luis Antônio de Sá Quiroga. Foi enviado a Salvador para que fosse processado. Mas já com 80 anos e enfraquecido pela varíola, Bartolomeu Fernandes de Faria falece antes de receber qualquer pena.
05/09/17
Mário Sérgio Lorenzetto
Fonte: Campo Grande News - Campo Grande/MS
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