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Curiosidades

Maior procura por títulos verdes
Publicado em 01/09/2022 às 14h34
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O Brasil começa a despontar como um mercado promissor para os chamados financiamentos sustentáveis -- títulos verdes, sociais, vinculados à sustentabilidade e de transição --, instrumentos de dívida emitidos por empresas, governos ou entidades, que são comercializados para atrair investimentos para projetos ligados a práticas ESG.

O volume de operações emitidas no país com rótulo sustentável atingiu R$ 86,10 bilhões em 2021, com 120 operações, ante R$ 29,37 bilhões em 2020 e 42 transações. Em 2022, foram mapeadas 45 transações até agosto, com R$ 36,97 bilhões. Desde 2015, data da primeira operação, esse mercado movimentou R$ 177 bilhões com 236 operações, segundo a consultoria Natural Intelligence (NINT).

A despeito do crescimento considerável, as operações ESG no Brasil são uma pequena fatia do mercado global, que deve alcançar US$ 1,5 trilhão em 2022, ante US$ 1 trilhão em 2021, segundo a Environmental Finance. "A questão climática tem evoluído nas discussões mundiais, com os consumidores mais engajados e os fundos de investimentos passando a privilegiar as empresas mais empenhadas na proteção socioambiental", diz o diretor-executivo de sustentabilidade, cidadania financeira, relações com o consumidor e autorregulação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Amaury Oliva.

Se até 2020 essas operações eram concentradas em poucos setores, como os de papel e celulose e energias renováveis, houve adesão de novos segmentos, como os de transportes e logística, agronegócio, saneamento, biocombustíveis e cosméticos, entre outros. "É um mercado que possui uma demanda maior que a oferta e, por isso, há maiores chances de atrair mais investidores e diversificar a carteira", afirma a analista do programa de infraestrutura para Brasil e América Latina do Climate Bonds Initiative, Júlia Ambrosano.

Um das operações que começam a ganhar mais espaço são os chamados instrumentos vinculados a metas de sustentabilidade (Sustainability-Linked Bonds), os SLBs, procurados pelo fato de não exigirem um direcionamento dos recursos para investimentos em projetos específicos, mas sim a metas de indicadores, como a diminuição das emissões de carbono, redução do consumo de matérias-primas e crescimento dos indicadores de diversidade.

A Natura Cosméticos, em maio de 2021, realizou uma emissão de US$ 1 bilhão em títulos vinculados a duas metas de sustentabilidade: reduzir em 13% a intensidade das emissões de gases de efeito estufa e atingir 25% de uso de plástico reciclado pós-consumo em embalagens de produtos plásticos até 2026.

Segundo a CFO da Natura &Co América Latina, Silvia Vilas Boas, a demanda pelos papéis superou a oferta em quatro vezes, e o objetivo da operação foi mostrar ser possível alinhar metas financeiras e de sustentabilidade. "Acreditamos que esse tipo de captação tende a crescer. O setor financeiro e a comunidade empresarial vêm percebendo que têm desafios em comum e que podem construir negócios atrelados a causas socioambientais, promovendo assim uma agenda mais ampla pelo desenvolvimento sustentável."

O Grupo Boticário, em 2020, emitiu um SLB de R$ 1 bilhão. A meta, até 2025, é migrar para fontes renováveis todo o consumo de energia elétrica das fábricas e centros de distribuição, além de reciclar, reutilizar ou coprocessar 100% dos resíduos gerados nos processos produtivos. "As taxas de juros caem dez pontos-base a cada ano, conforme a evolução no cumprimento da meta", diz o diretor de tesouraria, Pedro Andrade.

Em volume, o setor de papel e celulose lidera as operações, com 27%, seguido pelo financeiro (16,2%) e o de energia (13,5%). A primeira operação sustentável da Suzano, em 2016, teve a intenção exclusiva de gerar ganho de reputação, lembra o diretor- executivo de finanças e de relações com investidores, Marcelo Bacci. Seis anos e seis transações depois, os objetivos mudaram. A reputação continua sendo levada em conta, mas outros dois fatores entraram em jogo: obter vantagens financeiras e mobilizar a equipe para bater metas sustentáveis.

A Suzano lançou em 2020 duas emissões de títulos de dívida no valor total de US$ 1,25 bilhão, no modelo SLBs. Caso a meta de redução de emissão de gases de efeito estufa seja cumprida, haverá ganho de US$ 31,25 milhões; caso o resultado não seja batido, um ajuste de 0,25% na taxa de juros desta dívida, gerando uma penalidade de US$ 15,62 milhões, aplicada a partir de 2026.

"Mas o investidor quer que a empresa bata essa meta. Ele busca investimentos de impacto, a penalidade é só um incentivo", diz. As sete operações com rótulo ESG da companhia somam US$ 6 bilhões. Além da redução das emissões de carbono, as outras metas escolhidas pela empresa nas demais operações SLB, que somam US$ 1,5 bilhão, foram a redução do consumo de água nas operações industriais e o aumento do número de mulheres em cargos de liderança. Intensiva em capital, a Suzano tem 40% de sua dívida, que soma entre US$ 14 bilhões e US$ 15 bilhões, atrelada a financiamentos sustentáveis.

A B3 registrou a emissão de 19 instrumentos com a certificação ambiental ou social (ou ambas) em 2019, número que subiu para 24 em 2020 e saltou para 76 no ano passado. Em 2022, até o mês de julho, foram 31 emissões. "É uma maneira de investir com propósito, para além do desejo de rentabilidade", afirma o gerente de produtos de balcão na B3, Leonardo Betanho.

O BTG Pactual, entre 2016 e 2022, distribuiu US$ 10,9 bilhões em operações emitidas com rótulo sustentável no Brasil, dos quais US$ 6,3 bilhões somente em 2021, ano recorde para o banco de investimentos. Para a head da área de investimentos sustentáveis e de impacto da instituição, Patrícia Genelhú, a demanda vem aumentando na esteira da tendência global dos investidores de incluir em seus portfólios operações que levam em conta aspectos sociais, ambientais e de governança (ESG). "E as empresas precisam fazer essa sinalização institucional para que sejam percebidas como sólidas dentro dessa agenda de sustentabilidade."

Segundo ela, os títulos sustentáveis tradicionais, como os green bonds (emissões verdes), seguem bem sólidos e não perderam espaço, mas as operações com viés mais inovador têm conquistado terreno, como os SLBs, por conta da flexibilidade em permitir que o recurso possa ser usado conforme a necessidade. No mercado como um todo, em volume, os títulos verdes lideram com 71,8% das operações, seguidos pelos sustentáveis (18,2%), de transição (5,4%) e sociais (4,5%), segundo a NINT.

O Santander viabilizou R$ 51,6 bilhões em negócios sustentáveis em 2021, mais 93% ante 2020. Nos últimos três anos, esse volume cresceu quase quatro vezes. O responsável pela área de green finance do banco, Alex Zanardo Sciacio, aponta que uma das tendências de mercado é atuar em parceria com os clientes nas cadeias de suprimentos. "É uma grande oportunidade, apoiar nossos clientes para auxiliar na descarbonização dos seus fornecedores." O banco, que inaugurou sua atuação no Brasil na área de operações com rotulagem ESG em meados de 2020, com o financiamento verde de R$ 180 milhões para a FS Bioenergia, produtora de etanol de milho, destaca o crescimento da demanda nos mercados de energias renováveis (solar e eólica) e de saneamento, que ganhou impulso após a aprovação do novo marco regulatório, que viabilizou novas concessões e investimentos.

A Aegea Saneamento levantou US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,4 bilhões) no mercado de capitais internacional, em abril deste ano, em uma emissão de bonds no formato SLB. A empresa firmou três compromissos até 2030: redução do consumo de energia em 15%, aumento de 32% para 45% de mulheres em posições de liderança e aumento de 17% para 27% de pessoas negras ocupando cargos de liderança. Caso não bata essas metas, haverá um aumento na taxa de juros de 25 Basis Points (bps) em dólar. "As metas com nossos investidores vão além das metas dos contratos e, se não alcançadas, produzirão impactos financeiros", ressalta o diretor-presidente da companhia, Radamés Casseb.

A head de negócios ESG do Itaú BBA, Luiza Vasconcellos, conta que, historicamente, a interlocução com os clientes era focada na área financeira, mas que o diálogo migrou também para os departamentos de sustentabilidade, novos negócios e operações. Na visão do banco, o tema ESG, mais especificamente de finanças sustentáveis, será em breve uma regra. "O crescimento acelerado do mercado brasileiro nos últimos anos mostrou nossa evolução na incorporação de aspectos ESG aos negócios. Por mais que ainda não seja possível verificar uma vantagem de preço nessas transações, sabemos que investidores tendem a ter um viés positivo para elas."

O Itaú BBA estreou com uma emissão ESG em 2016. No ano passado, foram mais de 32 operações no mercado local, com volume de R$ 9,9 bilhões, e dez operações no mercado internacional, totalizando US$ 795 milhões. Em 2022, até julho, o banco registrou 14 operações no mercado local (R$ 5,66 bilhões) e cinco no internacional (US$ 430 milhões).

O Bradesco observa uma procura crescente dos clientes por financiamentos verdes, atrelados a entregas e benefícios ambientais, principalmente relacionados a temáticas de energia renovável, eficiência energética e redução de emissões. Em 2021, estabeleceu a meta de direcionar R$ 250 bilhões, até 2025, para negócios de impacto positivo, gerando benefícios socioambientais por meio de crédito corporativo, títulos no mercado de capitais e das soluções financeiras socioambientais do seu portfólio. Até junho de 2020, o banco atingiu 52% desse objetivo, ou seja, R$ 129 bilhões em negócios sustentáveis, com destaque para a contribuição do crescimento de mais de três vezes na originação de greens e socials bonds. "Nossa expectativa é que este mercado continue crescendo e ampliando a diversidade de temas relacionados à agenda ambiental, como, por exemplo, mercado de carbono, agricultura de baixo carbono, hidrogênio verde, gestão de resíduos e efluentes", diz Marcelo Pasquini, head de sustentabilidade.
Fonte: Valor Econômico
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