União Nacional da Bioenergia

Este site utiliza cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência. Ao continuar navegando
você concorda com nossa política de privacidade. Política de Privacidade

Economia

Nova regra do ICMS deve ser primeiro teste para política da Petrobras
Publicado em 31/05/2023 às 08h38
Foto Notícia
A cobrança de uma alíquota única de ICMS sobre a gasolina e o etanol anidro a partir de sexta-feira (1º) deverá ser o primeiro teste para a nova política de preços da Petrobras, uma vez que a alteração tende a aumentar os preços nas bombas e não há espaço para queda nas refinarias se for seguido o Preço de Paridade de Importação (PPI). A visão de especialistas ouvidos pelo Valor é de que a mudança - será adotada uma alíquota unificada de R$ 1,22 por litro dos combustíveis em todos os Estados - pode jogar luz sobre pontos da nova política da companhia que ainda estão envoltos em dúvidas.

De acordo com a StoneX, a cobrança de R$ 1,22 por litro de gasolina e de etanol anidro representará, na média, um avanço de R$ 0,16 por litro na média brasileira. Haverá queda na cobrança do tributo apenas em três Estados: Alagoas, Amazonas e Piauí. A maior alta, de R$ 0,29 por litro, será no Mato Grosso do Sul, enquanto a maior queda, de R$ 0,11, será no Piauí.

Pedro Shinzato, analista de petróleo e derivados da StoneX, ressalta que atualmente, tomando-se por base o PPI, os preços da gasolina nas refinarias da Petrobras estão R$ 0,01 abaixo da paridade. Ou seja, para ficar no "zero a zero" a estatal deveria elevar os preços em R$ 0,01, ou uma alta de 0,35%. No caso do diesel, deveria haver um aumento de R$ 0,08, ou 2,65%, para se atingir a paridade. Em outras palavras, a companhia não poderá reduzir preços para compensar a alta média do ICMS caso queira continuar seguindo o PPI.

"Seria um teste de fogo para a nova política", diz Shinzato, acrescentando que, com a mudança do ICMS o mercado terá uma "prova" da nova política e precificação de derivados da empresa. "O mercado não precisa de preço alto. O mercado precisa de preço previsível", acrescenta.

Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), concorda e afirma que as mudanças representarão um teste para a estatal. Ele acredita que a companhia não deve realizar um aumento para compensar a alta dos tributos por enquanto. "O ministro Fernando Haddad já disse que a Petrobras deve absorver e fazer novas reduções para que os impostos não prejudiquem o consumidor. Mas ainda ficamos com a dúvida do que a Petrobras vai fazer com sua nova política de preços", frisa Rodrigues.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em audiência na Câmara dos Deputados em 17 de maio que a Petrobras ainda não diminuiu os preços dos combustíveis na medida que poderia diminuir. O espaço para cortar novamente os preços seria uma forma de compensar as reonerações do PIS/Cofins sobre combustíveis previstas para começar em 1º de julho, segundo ele. Mas agora, duas semanas depois, o quadro mudou e o espaço para queda não existe mais, se seguida a paridade com o PPI.

"O mercado não precisa de preço alto. O mercado precisa de preço previsível" --- Pedro Shinzato

Bruno Cordeiro, analista de inteligência de mercado da StoneX, ressalta que, a partir da monofasia - alíquota única - do ICMS sobre gasolina e etanol anidro será possível "jogar luz" sobre conceitos citados pela Petrobras ao divulgar sua nova política de precificação: o custo alternativo do cliente e o valor marginal para a estatal.

"Vai ter uma pressão maldita sobre os preços [nas bombas] motivada pela tributação. Vai ser interessante ver como a Petrobras vai tentar contrabalançar isso", afirma Cordeiro.

Os cálculos do CBIE indicam que a mudança do ICMS somada à volta da cobrança do PIS/Cofins e Cide em julho gerariam aumento de 14% do preço da gasolina nas bombas. A consultoria também calcula que os preços praticados no país atualmente estão defasados em relação aos que são cobrados internacionalmente: 19,97% na gasolina e 7,90% no diesel, nas refinarias.

"A mudança do ICMS já estava prevista e é muito bem vinda", diz Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Para Marcus D´Elia, sócio da Leggio Consultoria, a alta dos preços dos combustíveis não será igual em todos os Estados. Ele acredita ser possível para a Petrobras absorver o aumento do custo, mas alerta para pressão nas contas da companhia. "Caso a Petrobras opte por absorver esta variação de preço para não afetar o consumidor, a margem de refino será pressionada."

Em contrapartida, salienta o consultor, a monofasia é positiva ao reduzir a sonegação fiscal e o custo logístico de distribuição, e ainda eliminar perdas tributárias.

Emerson Kapaz, presidente do Instituto Combustível Legal (ICL), diz que o modelo de recolhimento do imposto vai ajudar na previsibilidade da arrecadação e na transparência dos impostos pagos pelos consumidores. "Acreditamos que foi acertada e correta a escolha dessa metodologia", afirma o chefe da entidade, mas com uma ressalva: "Falta ainda a inclusão do etanol hidratado, importante para fecharmos a monofásica em todos os combustíveis do setor", diz, lembrando que a alíquota única vale apenas para o etanol anidro.

D´Elia vê pressão semelhante no mês que vem, quando se encerra a desoneração dos impostos federais PIS/Cofins, com perspectiva de novo aumento nos preços. "Esse realmente vai ser um bom teste para entender como vai ser praticada a nova política de preços da companhia", diz.

James Thorp Neto, presidente da Fecombustíveis, diz que ainda não é possível identificar como a política de preços da Petrobras vai se comportar a partir da mudança do ICMS. "A nossa preocupação agora é que as pessoas entendam que isso é um tributo, que não são os postos que estão aumentando os preços. Mas não sabemos ainda como as distribuidoras vão repassar esses tributos", explica.
Fonte: Valor Econômico
Fique informado em tempo real! Clique AQUI e entre no canal do Telegram da Agência UDOP de Notícias.
Notícias de outros veículos são oferecidas como mera prestação de serviço
e não refletem necessariamente a visão da UDOP.
Mais Lidas