União Nacional da Bioenergia

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O que esperar para o açúcar no mês de março? - Por: Mauricio Muruci
Antecipação de safra no Centro-Sul do Brasil; Chuvas reduzidas mas ainda presentes, Topo Duplo sobre Maio/23 em Nova York; Impasse com reoneração do Pis/Cofins, incredulidade com quebra de safra na Índia e exportações rompendo o teto de 6,1 milhões de toneladas.
Publicado em 02/03/2023 às 08h15
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O mês de março deverá ser o período marcado por um forte conjunto de vetores de mercado que devem impactar as cotações do açúcar, tanto em Nova York quanto no mercado físico. De modo geral, a SAFRAS & Mercado observa que o conjunto de vetores de baixa aos preços é bem mais numeroso e intenso do que os vetores de alta os quais, basicamente estão resumidos nas narrativas de quebra na safra indiana e na consequente redução das exportações de açúcar do país. Porém, para o mês de março, estes dois únicos vetores de alta [ou melhor, sustentação de preços] tem sua capacidade de precificação de novos ganhos bem reduzida. Primeiro porque não são novidades, tendo sido acenados ao mercado ainda na virada de janeiro para fevereiro. A diferença é que somente no final de fevereiro a comunicação por parte do governo da Índia veio de forma oficial que, de fato, as exportações do país tendem a ter uma restrição de teto na faixa de 6,1 milhões de toneladas.

O segundo vetor que limita a capacidade de novos ganhos por parte dos fundamentos da Índia é a credibilidade que este tipo de expectativa feita localmente possui. Isto porque o argumento central sempre esteve focado no prolongamento das chuvas de Monções do ano anterior por 30 dias além do calendário oficial do fenômeno. Ainda assim a SAFRAS & Mercado alerta que um mês apenas de chuvas prolongadas [além disso, em menor intensidade] não se mostram como um vetor grave o suficiente para provocar uma quebra de safra de 37 para 34 milhões de toneladas. Por fim, grande parte da cota de 6,1 milhões de toneladas definida pelo governo da Índia já está quase vendida, aguardando apenas o embarque, o que eleva muito a probabilidade de rompimento desta faixa de forma muito intensa. Neste sentido a SAFRAS & Mercado segue com sua estimativa inicial de exportações da Índia na faixa de 12 milhões de toneladas, que deve representar uma alta de 8,11% sobre as 11,2 milhões de toneladas da safra anterior.

O grande detalhe é que na safra passada as usinas não respeitaram o teto jurídico imposto pelo governo de 10 milhões de toneladas tendo embarcado um volume um milhão e duzentas mil toneladas a mais que este teto. O que dirá então de uma "cota" que é apenas um referencial de tolerância que o governo entende como aceitável para os embarques externos? Já pelo lado dos vetores de baixa aos preços podemos começar pela figura gráfica de reversão de tendência de alta chamada de Topo Duplo. Esta se se desenvolveu sobre o atual driver na bolsa de Nova York Maio/23 ao longo do final de fevereiro. A figura por si só já possui uma elevada capacidade de formação de expectativas auto realizáveis por possuir um índice de assertividade estatístico histórica de 85%. Somado a isto tudo temos os fundamentos do Brasil que mostram uma safra nova 2023/24 em abril com expansão de 20 milhões de toneladas de cana frente a temporada anterior [saindo de 545 para 565 milhões de toneladas]. Somando uma figura gráfica tão forte e conhecida no mercado junto a fundamentos de baixa temos uma probabilidade elevadíssima de criação de uma tendência de queda muito forte no mês de março para o atual driver Maio/23. A expectativa da SAFRAS & Mercado é que este ativo saia da faixa de US$/cents 20,00 visto no final de fevereiro para a base dos US$/cents 18,90. Com isto podemos ter uma queda de 5,5% no acumulado de março.
Em março teremos também a antecipação de moagem da safra nova no Centro-Sul por um número de 12 a 15 usinas, que deve ampliar o impacto psicológico da entrada de safra nova. Embora seja um número pequeno de usinas dentro do contexto total de 260 unidades que deverão operar na safra 2023/24, o início antecipado colabora para a elevação na oferta de açúcar no curto prazo. Por outro lado, também alertamos que o mix médio das usinas que começam a safra nova tende a oscilar entre 75% a 100% para o etanol, que deve amenizar um pouco a pressão de baixa deste vetor.

Mas ainda assim ele permanecerá. Outro vetor de baixa aos preços do açúcar será a questão dos juros nos Estados Unidos. Tema central da live de açúcar e etanol realizada em fevereiro, este movimento de juros mais elevados seguirá constante ao longo de 2023 e reforçará a pressão de baixa sobre os futuros do açúcar também sobre as demais commodities. É claro que uma externalidade negativa deste movimento será um real mais fraco frente ao dólar que elevará a remuneração em moeda local dos exportadores. Mesmo assim este vetor será facilmente neutralizado pela quedas nos futuros. Pelo lado do clima teremos um mês de março ainda chuvoso porém com volumes bem menos intenso que registrado em fevereiro e janeiro. Em abril, quando o calendário oficial da colheita começar, os volumes serão ainda menores, possibilitando o início da safra regular e sem atrasos.

Por fim temos uma grade incerteza quanto a questão do Pis/Cofins. Programado para terminar a desoneração no fim de fevereiro, ainda há uma discrepância de informações e leitura de mercado entre a ala política do governo e a área técnica. Ainda não há comunicação oficial, apenas um debate de narrativas através da mídia. A área econômica do governo já comunicou o mercado através da mídia que pretende fazer lobby pela não renovação das desoneração no fim de fevereiro. Questões fiscais são obviamente o pivô da decisão, ainda mais frente a ampliação dos gastos do governo. Porém a decisão final não é da economia e sim da presidência, o que deixa o cenário claramente sem rumo na ponta final da tomada de decisão. A posição da área técnica e econômica é uma coisa, mas a palavra final da presidência, é um mundo totalmente diferente.
Mauricio Muruci
Analista pela Safras & Mercado, atua há 12 anos em análise econômica e de mercados agrícolas. Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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