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A influência dos movimentos nas taxas de juros sobre as cotações do açúcar - Por: Mauricio Muruci
Movimentos recentes das taxas de juros tanto pelo Banco Central do Brasil quanto pelo Federal Reserve apresentam capacidade de formar vetor extra de baixa sobre as cotações do açúcar bruto em Nova York ao longo de 2023
Publicado em 03/04/2023 às 08h51
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O final do mês de março foi marcado pela ocorrência da "super quarta", dia em que houve decisão tanto dos movimentos mais recentes nos juros dos Estados Unidos quanto do Brasil. Estes dois movimentos, embora relativamente silenciosos sobre os seus efeitos no mercado de açúcar, possuem real capacidade de motivar contínuas pressões de baixa sobre as cotações do açúcar bruto em Nova York ao longo de 2023 e também de 2024 tanto de forma direta quanto indireta. Analisando os fatos pela ótica dos juros nos Estados Unidos temos um vetor maior de complexidade. Isto porque há uma correlação "clássica" de forças entre o aumento nas taxas de juros dos Estados Unidos e influência de queda na curva de demanda do açúcar. Por mais inelástica que ela seja, a pressão negativa efetivamente existe.

Quando o Federal Reserve, no último dia 22 de março, resolveu manter o tom de elevação nas taxas de juros, mesmo que em 25 pontos base, reafirmou que está mais preocupado com a inflação nos Estados Unidos do que com a viabilidade financeira do setor bancário local. No início de março as apostas do mercado como um todo oscilavam em aumento de 50 pontos base na reunião do dia 22 de março. Porém, antes disto houve a notícia da quebra do Silicon Valley Bank e, logo na sequência, vieram as informações de inconsistências contáveis nos balanços do Credit Suisse nos exercícios de 2019, 2020 e 2022. A compra do banco suíço pelo seu concorrente UBS ocorreu somente depois dos acionistas majoritários do Credit Suisse afirmarem que não iriam fazer aportes de capital deixando parta o Banco Central da Suíça arcar com o capital necessário para manter o banco "flutuando", ainda que por pouco tempo.

Na sequência tivemos o Federal Reserve liberando créditos de swap cambial aos bancos centrais internacionais no montante de US$ 150 bilhões, volume bem maior que os US$ 100 bilhões liberados ao longo da crise do sub-prime em 2007/08. Recentemente, no dia 23 de março, a agência de classificação de risco internacional Moody?´s afirmou em relatório que existe um risco de que a turbulência bancária nos Estados Unidos possa não ser contida. Este risco existe mesmo com a ação rápida dos reguladores do mercado norte americano sendo que o estresse do sistema bancário norte americano contamine outros setores da economia desencadeando danos financeiros e econômicos maiores do que se inicialmente previa. Segundo a Moody?´s há a possiblidade de que as autoridades norte americanas sejam incapazes de reduzir a turbulência atual sem repercussões severas e duradouras dentro e fora do sistema bancário norte americano.

Logo, os impactos negativos dos juros mais altos nos Estados Unidos começam na elevação do custos do dólar, no encarecimento das compras de contratos futuros de commodities e se prolongam sobre o achatamento da curva de demanda de açúcar para o longo prazo, tanto de forma direta, através da elevação das taxas de desemprego no país, quanto de forma indireta, através da criação de um cenário de crise internacional que pode provocar um cenário de sell-off tanto no mercado acionário quanto de derivativos, entre eles os agrícolas os quais se encontram os contratos futuros do açúcar. Recentemente era comum no mercado a percepção de que o papel do Federal Reserve era o de controlar a inflação e não o de criar uma nova crise no sistema bancário norte americano. Este tipo de leitura e interpretação do mercado foi a base para o total descontentamento dos agentes quando o Federal Reserve decidiu elevar os juros apenas em 25 pontos base, e não em 50 pontos base como se esperava no início de março antes da quebra do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse.

Em linha com o alerta da Moody?´s, estes dois bancos não serão os únicos a quebrar, sendo que para quem conhece bem o funcionamento do sistema financeiro internacional, somente um boato de crise em um banco internacional de investimento da magnitude de Credit Suisse já seria o suficiente para estourar um movimento vendedor de manada sobre o mercado que, por milagre, ainda não aconteceu. Há também o prejuízo das operações de swap reverso que o Federal Reserve criou para os bancos centrais que tomaram participação na linha de crédito de US$ 150 bilhões criada nesta semana, visto que a garantia é dada em moeda local do tomador do empréstimo, criando uma operação já deficitária para os bancos centrais locais tomadores de crédito.

Pela ótica do Brasil, a simples manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano na reunião mais recente do Copom acabou por fomentar o agravamento da crise política entre o governo federal e o banco central. Esta crise já foi encabeçada pelo ministro da fazenda o qual declarou preocupação com a questão. De modo geral a crise política e a manutenção de um custo fiscal elevado para o governo [o qual tem ampliado bastante os gastos] acaba por repercutir na taxa de câmbio que deve se depreciar ainda mais ao longo dos próximos meses. O real mais fraco frente ao dólar tende a elevar a renumeração das usinas e exportadoras brasileiras de açúcar no momento da internalização das divisas. Logo, cria-se uma onda vendedora por parte do Brasil incentivada pela desvalorização cambial. Logo, por parte do Brasil, a manutenção ou ampliação dos juros desvaloriza o real frente ao dólar. O real mais fraco, aumenta a remuneração interna das exportações e eleva a oferta do açúcar brasileiro lá fora em um momento de intensificação das pressões negativas com os juros norte americanos mais altos.

Há também uma nova crise em curso, só que por parte do etanol. A queda na gasolina ocorrida com a alta no Pis/Cofins foi um movimento que esperava-se não ser isolado. Agora tem se confirmado esta tendência com baixas de 4% no diesel ao longo da semana junto a declarações do presidente da Pebrobras de que a estatal já busca a "paridade interna" e que novos ajustes de baixa sobre a gasolina estão por vir. Há também declarações do ministro da casa civil de que o setor de aviação tende a baixas os preços das passagens aéreas, mas não através de subsídios diretos e sim da queda em seus custos de produção, como por exemplo, a queda nos combustíveis. Logo, observa-se que, sob várias óticas, os combustíveis [vide gasolina e diesel] devem ser usados como vetores de contenção inflacionária ao longo não apenas de 2023, mas também sobre os próximos três anos de mandato do novo governo. Isto deve refletir nas cotações internacionais através da redução do mix do etanol e aumento do mix para o açúcar. De fato, o primeiro trimestre de 2023 chega ao fim com várias tempestades sendo observadas no horizonte.
Mauricio Muruci
Analista pela Safras & Mercado, atua há 12 anos em análise econômica e de mercados agrícolas. Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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