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Onda de calor na Ásia pode deixar Monções da Índia sob forte volatilidade em 2023 - Por: Mauricio Muruci
Temporada de Monções é iniciada simultaneamente ao El Niño na versão de 2023, deixando fenômeno com elevado grau de imprevisibilidade; Usinas do Brasil terão 2023 e 2024 de preços ainda nas maiores faixas de 11 anos para as fixações da safra 2024/25
Publicado em 03/07/2023 às 17h08
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A temporada mais recente das chuvas de Monção do ano de 2023 tem iniciado de forma muito surpreendente e com altíssima capacidade de formar um suporte de alta sobre os preços do açúcar no médio prazo. Logo, não apenas o segundo semestre de 2023, e a safra internacional 2022/23, devem ter impacto com a ocorrência atípica das Monções deste ano, mas também a safra 2023/24 possui alto nível de probabilidade de ser negativamente impactada pela ocorrência simultânea do El Niño em maio a temporada de chuvas de Monção na Ásia neste ano.

Ainda no início de junho a SAFRAS & Mercado havia divulgado um relatório no seu serviço exclusivo de consultoria indicando um início muito lento das chuvas no primeiro mês do evento. É importante lembrar que as chuvas de Monção da Ásia ocorrem entre junho a setembro de cada ano, podendo eventualmente se prolongar até outubro, como foi o caso do ano anterior, quando em 2022 as indústrias locais da Índia foram as primeira as apontar queda na produtividade da cana do país em função do prolongamento das chuvas daquele ano.

Já agora em 2023 desde maio temos indicações de escritórios de climatologia da Índia alertando para volumes de chuvas até então 57% abaixo da média histórica para a região nos últimos 20 anos. Depois disto, em junho, recentemente temos informações a alertas quanto a padrões climáticos de altas temperaturas no país. Segundo matérias da Reuters, citando agências de climatologia locais, as temperaturas têm chegado a máximas de 43C° na Índia e em 41C° na China. A SAFRAS & Mercado alerta sobre alguns pontos que devem ser analisados quanto a esta questão.

Primeiro, não é a primeira vez que ondas fortes de calor ocorrem na Índia nesta época do ano, porém estas ondas de calor geralmente ocorrem em maio, e não em junho. Já neste ponto temos um relativo atraso de 30 a 40 dias na propagação da própria onda de calor. Segundo, esta onda de calor não é a maior da história, sendo que em anos anteriores foram registradas temperaturas de 51C° em algumas regiões centrais da Índia, dentro do fenômeno de continentalidade. Terceiro, as ondas de calor são normais antes do início da temporada de chuvas de Monção na Ásia como um todo, sendo um movimento climático que antecede as chuvas.

O grande detalhe está não na intensidade do calor [até porque em outros anos ele já fora maior] mas na ocorrência dele em junho, e não em maio. E este é o grande detalhe desta histórica. Isto porque, estando a onda de calor atrasada entre 30 a 40 dias, é possível antecipar que o início da própria temporada de chuvas de Monção na Índia pode ter um atraso em igual intensidade de tempo. Isto explica as estatísticas dos escritórios de climatologia da Índia de maio com volumes 57% abaixo da média histórica. Com isto, poderemos ter um deslocamento da temporada de Monção neste ano de 2023 de julho a outubro e não de junho a setembro como geralmente ocorre. Este deslocamento nas chuvas de monção pode servir como falácia para as usinas da Índia em apontar uma nova quebra na safra internacional 2023/24 que começa em outubro.

Primeiro a safra deles de fato pode atrasar pelo deslocamento das chuvas de Monção. Porém este atraso pode servir de pretexto para alertas e análises locais sobre quebra na safra pelo excesso de chuvas e alta nos preços também pelo atraso no início da temporada. De fato, a safra futura da Índia 2023/24 devem sim iniciar atrasada pelo calendário habitual do país e isto sim deve provocar alta nos preços em Nova York. Porém, como é de costume na índia, os agentes locais devem usar o prolongamento das chuvas sobre outubro como um argumento para um novo excesso de umidade e baixa incidência de luz solar com efeitos negativos sobre a produção local que além de em baixa, deve ter atraso.

Antigamente os agentes em Nova York filtravam mais e analisavam mais os dados da Índia, assim como observavam mais as indicações mais idôneas como as da Secretaria de Agricultura dos Estados Unidos. Porém, o que temos visto agora, é que este modo mais "raiz" de interpretar o mercado tem sido deixado de lado. Umas das explicações pode estar relacionada aos questionamentos da idoneidade do USDA realizada nos anos anteriores. Já uma segunda leitura pode estar ligada a transição geracional dos tomadores de decisão dos fundos de investimentos, com profissionais de faixa etária menor, mais propensos a analisar leituras de mercado de consultorias privadas do que dados de secretarias de governo, por mais capilaridade e experiência que elas tenham na compilação e mensuração nos dados de acompanhamento do saldo do balanço entre a oferta e a demanda internacional.

Logo, a SAFRAS & Mercado compreende que as cotações do açúcar em Nova York tendem a se mostrar mais voláteis e a refletir mais as notícias de mercado da Índia ao longo dos próximos semestres, dando maior vazão para as especulações dos agentes indianos quanto ao risco climático sobre a própria safra. Voltando ás Monções, a nossa leitura é que a temporada apenas será deslocada de 30 a 40 dias, mas não prolongada, conforme explicamos parágrafos acima. Há também o risco do alerta do NOAA se confirmar. No final de maio deste ano o NOAA comunicou oficialmente o início do El Niño para o mês de junho, alertando que sobre a Ásia os efeitos poderiam ser de tempo mais seco. Naquele período questionamos a indicação do NOAA sobre tempo seco na Ásia exatamente no mês de início das Monções na região.

Porém, o El Niño de fato já provoca um atraso nas chuvas, sendo que a dúvida agora recai sobre a intensidade das mesmas. Ainda não temos dados estatísticos de junho, sendo que apenas temos a referência de maio com níveis 57% mais baixos como mencionamos antes. Porém isto tudo jogado no mercado pode sim trazer muita incerteza e muito mercado de risco climático mantendo as cotações do driver do açúcar bruto em Nova York em níveis próximos aos maiores preços em 11 anos como temos visto desde a segunda quinzena de abril deste ano. Logo, esta pequena investida de baixa que temos visto sobre Outubro/23 com testes de mínimas de curto prazo, pode ter vida curta, com novas inflexões de alta a medida que novas notícias da Índia tragam informações de volumes de chuvas ainda expressivamente abaixo da média histórica para esta época do ano. Maio já tem 57% de baixa. Junho pode ter volumes ainda maiores de queda, acima dos 100% visto que geralmente junho já é um mês de chuva forte no país com a Monção geralmente em seu primeiro mês. Caso ela apenas atrase, e se mostre na intensidade padrão para o fenômeno, teremos ainda assim um mês de junho com volumes muito baixos de chuvas em relação a média histórica.

Quando isto acontecer as usinas da Índia disseminarão esta informação de modo muito amplo na mídia internacional, com impacto de alta nos preços do açúcar em Nova York. Já se a temporada tiver de fato volumes menores, como o NOAA aponta, além do atraso, as usinas da Índia terão dois motivos muito fortes para ventilar este tipo de informação na mídia internacional e de fato motivar ganhos ainda maiores sobre as cotações do açúcar em Nova York. Isto pode beneficiar muito as usinas do Brasil que terão o segundo semestre inteiro de 2023 e o todo o primeiro semestre de 2024 com preços em Nova York ainda ao redor do atual patamar de maior alta em 11 anos para realizar as suas fixações da safra futura 2024/25.
Mauricio Muruci
Analista pela Safras & Mercado, atua há 12 anos em análise econômica e de mercados agrícolas. Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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