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Os impactos das monções abaixo da média na Ásia em 2023 - Por: Mauricio Muruci
Os efeitos sobre os preços de Março/24 em Nova York e sobre os preços do açúcar cristal no mercado físico ao longo dos próximos três meses combinado com as chuvas antecipadas sobre os canaviais do Centro-Sul e Centro-Oeste do Brasil.
Publicado em 06/09/2023 às 16h05
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O mercado de açúcar inicia um mês de setembro marcado pela quase discreta sustentação e manutenção de nova marca dos 25 cents tanto sobre Outubro/23 quanto sobre Março/24. Ambos atingiram essa marca vindo da faixa dos 23 cents ainda na quarta semana de agosto, mas avançando em direção aos 26 cents até meados da quinta e última semana de agosto. Embora não tenham conseguido testar os 26 cents de forma sólida e terem voltado depois disto, ainda assim a região dos 25 cents foi claramente mantida mesmo durante as mínimas do curto período de devolução dos ganhos na virada de agosto para setembro.

Então, depois disto, o que esperar de setembro sobre o mercado de açúcar? Quando falamos mercado de açúcar citamos tanto Nova York quando o cristal no físico e até mesmo o etanol hidratado. Antes de tudo é interessante conceituar que quando falarmos do açúcar em Nova York falaremos de Março/24, visto que em nossa expectativa já na primeira semana de setembro ocorrerá a inversão da posição driver de Outubro/23 para Março/24. Então se mostra prudente já considerar este ativo como referencial de preços em Nova York. O primeiro ponto a observar sobre o mercado externo foi a alta de mais de 10% entre a quarta e a quinta semana de agosto.

Esta alta transpôs a linha de preço do açúcar em Nova York da base dos 23 para o nível dos 25 cents, em linha com o que a SAFRAS & Mercado já havia antecipado ainda no final de julho, antes que agosto começasse, frente a possibilidade elevada que o mês de agosto fosse encerrado com a retomada dos 25 cents [visto que até então o mercado ainda oscila em 23 cents]. O pivô para este movimento fora uma matéria da Reuters, citando três fontes anônimas do governo da Índia, afirmando que havia a possibilidade do país proibir exportações na safra futura 2023/24 que começa em outubro deste ano.

O detalhe é que de lá para cá os preços praticamente não voltaram, fora algum nível pontual de correção que já não se observava mais no primeiro dia de setembro. O detalhe é que de setembro para frente o clima de risco climático não será apenas uma questão da Índia e da Tailândia, e sim do Brasil. Isto porque os mapas de clima de precipitação acumulada para setembro, outubro e novembro se mostram elevados [maiores detalhes ver o relatório semana anterior onde esta questão fora detalhadamente abordada]. Com isto, além da Ásia os preços do açúcar em Nova York terão ainda suporte de alta por parte das chuvas que retornarão de forma antecipada de 30 a 60 dias sobre os canaviais do Centro-Sul e Centro-Oeste do Brasil.

Logo, a expectativa da SAFRAS & Mercado é que o açúcar em Nova York tenha o limite dos 25 cents somente sobre a primeira quinzena de setembro, com a segunda metade do mês já tendo preços acima dos 26 cents e em direção aos 27 cents. Outubro, será um mês em que as chuvas do Centro-Sul do Brasil estarão bem mais intensas que as de setembro. Além disso será o período de início da safra nova da Índia e da Tailândia, momento em que projeções oficiais do país estarão já conhecidas e provavelmente a decisão oficial sobre a proibição das exportações de açúcar sobre a safra corrente já tomada.

Com isto será um mês em que o açúcar em Nova York já terá a faixa dos 27 cents consolidada na primeira metade do mês e o nível dos 28 cents contratado para a segunda quinzena do período. Além disso, como a safra 2024/25 do Centro-Sul terá seu término antecipado em algumas regiões mais ao sul de SP e norte do PR, o mercado terá um suporte ainda maior para se direcionar ao 29 a 30 cents em novembro. Logo, a passagem do terceiro para o quarto trimestre deste ano deve ser marcada por forte movimento de consolidação dos ganhos do açúcar também no mercado físico para o cristal com até 150 Icumsa.

Este, por sua vez já apresentou a sua primeira inflexão de alta ainda na quinta e última semana de agosto quando saiu de R$ 135 para R$ 140 a saca de 50 kg com base em Ribeirão Preto, praça que serve de referência para as demais regiões produtoras do país. A base deste movimento ocorre diante da redução da fabricação de açúcar por parte das usinas do Centro-Sul do Brasil que observam estas chuvas com intensa preocupação. Este receio ocorre diante dos atrasos que as chuvas devem provocar na moagem de cana e das complicações nas entregas do açúcar fixado ao longo deste ano.

Com isto, além de tocar as unidades na produção a "todo vapor" as usinas estão reduzindo a produção do cristal para o mercado físico e priorizando o VHP para tentar produzir todo o volume de entrega contratado nesta safra antes que as chuvas cheguem com intensidade elevada no final de setembro e de outubro em diante. O resultado é que os movimentos do açúcar cristal já são de alta desde o final de agosto na faixa dos R$ 140 e deverão ter a primeira metade de setembro marcado por novas faixas de R$ 143 a R$ 145 e a segunda metade de setembro já entre os níveis de R$ 148 a R$ 150 a saca de 50 kg de açúcar cristal de 150 Icumsa com base em Ribeirão Preto.

Em outubro além das chuvas fortes o mercado deverá contar ainda com o início das compras de final de ano por parte das indústrias processadoras de alimentos que começam a se preparar de dois a três meses antes para a demanda extra por alimentos e bebidas das festas de final de ano e natal. Com isto, o mercado terá um vetor de baixa oferta com a chegada antecipada das chuvas ao mesmo tempo em que a demanda se fortalecerá com a intensificação destas compras. Logo, a SAFRAS & Mercado espera que os meses de outubro e novembro sejam períodos de preços do mercado físico entre R$ 160 a R$ 170 a saca para este açúcar.

VBP da cana recua R$ 696 milhões em julho

Os dados mais recentes do MAPA sobre o Valor Bruto de Produção Agrícola mostraram novas quedas na margem no VBP da cana assim como quedas generalizadas observadas tanto no VBP total das lavouras quanto no VBP geral do agro. O aumento das quantidades de produção do complexo grãos acaba, pressionando os preços externos e internos o que justifica os ajustes de baixa no curto prazo nos valores brutos de produção. A cana, por sua vez, segue em linha com os ajustes negativos generalizados observados no VBP do agro como um todo, quando observados na margem, frente as estimativas do mês anterior. Tanto o açúcar quanto o etanol anidro e hidratado tiveram um mês de julho com ajustes de baixa em seus referenciais de preços, resultado na queda de 0,66% no VBP da cana, com recuo de R$ 696 milhões, reduzindo o VBP de R$ 105,55 para R$ 104,85 bilhões entre junho e julho.

Apesar do vetor negativo na ótica de curto prazo [na margem] no ano temos ainda vetores positivos, sendo que o VBP da cana apresenta alta de 11,59% dos valores atuais em R$ 104,85 bilhões contra o nível de R$ 93,95 bilhões de 2022, já com o ajuste inflacionário sobre os preços do ano passado. O VBP das lavouras também se mostra mais alto no ano, na faixa de 3,98% assim como o VBP geral do agro apresenta alta de 1,85% no ano, quando comparamos o nível atual de R$ 1,135 trilhão contra a faixa de R$ 1,114 trilhão do ano anterior, também corrigido pela inflação.

Mais uma vez temos a manutenção do padrão de colaboração positiva entre as quantidades e os preços previsto para agosto visto que as cotações em Nova York para o açúcar bruto e no mercado físico para o etanol hidratado se encontram mais altas em agosto, em meio a estimativas ainda entre 385 a 600 milhões de toneladas de cana previstas para esta temporada 2023/24. Os dados de julho ainda não trazem os ajustes de alta dos preços do hidratado no mercado físico em agosto, mas o vetor positivo segue presente para o VBP da cana sobre este período. Na parte textual o MAPA indica que a cana segue presente como uma das cinco maiores culturas do VBP do agro que juntas representam 81,6% do total do VBP. A cana especificamente representa 9,23% VBP total do agro como um todo devendo elevar esta participação até o fim do ano quando o valor final da cana atingir R$ 110 bilhões segundo expectativas da SAFRAS & Mercado.
Mauricio Muruci
Analista pela Safras & Mercado, atua há 12 anos em análise econômica e de mercados agrícolas. Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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