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Diversas

Pesquisa aponta impactos das mudanças no clima na produção agrícola do Cerrado
Com o aumento da temperatura, emissões de gases de efeito estufa (GEE) serão maiores
Publicado em 26/03/2024 às 14h08
Foto Notícia
Um estudo brasileiro identificou o aumento de emissão do gás óxido nitroso (N2O) sob diferentes sistemas de manejo no bioma Cerrado ao longo dos próximos 50 anos. Essas emissões diminuíram o potencial de geração de biomassa e, com isso, impactaram na qualidade da produção de grãos na região.

Com o uso de modelos matemáticos calibrados para as condições do Cerrado, pesquisadores da Embrapa conseguiram simular as emissões do gás de efeito estufa (GEE) e constatar que, com o aumento da temperatura ao longo do tempo, essas emissões serão cada vez maiores, enquanto a produção de biomassa e o rendimento de grãos diminuirão.

Por outro lado, a pesquisa também comprovou que o uso de plantas de cobertura como prática regenerativa e plantio direto, apesar da redução de produtividade com o passar dos anos, são, em média, mais produtivos e com menor emissão de N2O se comparado aos sistemas convencionais.

O experimento começou em 1995 na Embrapa Cerrados (DF) e, além de pesquisadores dessa unidade, contou com a participação de colegas da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Universidade de Brasília (UnB). Apesar de a análise ser retroativa, a matemática utilizada pelos pesquisadores consegue prever o aumento das emissões para as próximas décadas - de 2031 a 2040 e de 2041 a 2050.

Foram avaliados três sistemas de uso do solo: preparo convencional com grade de discos e rotação bianual de gramínea/leguminosa (milho/soja) (CT); plantio direto, com sucessão cultural leguminosa-gramínea (soja/sorgo) (NT1); e plantio direto, com sucessão gramínea-leguminosa (milho/feijão guandu) (NT2).

Câmaras estáticas fechadas foram utilizadas para medir os fluxos de N2O para a modelagem na pesquisa. Em cada década analisada, as emissões cumulativas de óxido de nitrogênio em sistema convencional foi cerca de 2,5 vezes maior em relação ao plantio direto.

“Em relação às emissões acumuladas de N2O estimadas pelo STICS, podemos verificar que no caso da cultura de milho, as emissões sob o tratamento plantio direto (milho + feijão guandu) foram em média 3,5 vezes menores do que sob o tratamento convencional (apenas safra de milho). No caso da soja, as emissões de N2O no sistema plantio direto (soja + sorgo) foram 2,5 vezes menores em comparação ao tratamento preparo convencional (apenas safra de soja), como mostramos no estudo”, explicou, em nota, o pesquisador Alfredo Luiz, da Embrapa Meio Ambiente.

Produção

Quanto à produção média de biomassa simulada para o período, o milho no plantio direto apresentou produção 30,2% superior ao milho em sistema convencional. No caso da soja, a produção média anual de biomassa foi expressiva, de 55,7% mais no tratamento de plantio direto do que no preparo convencional. Mesmo assim, ao longo das décadas, ocorre uma diminuição significativa na produção de biomassa em todos os sistemas de manejo.

Já os dados de produtividade de grãos simulada pelo modelo mostram que a produtividade média do milho é significativamente maior no plantio direto, com 6,6 mil toneladas por hectare, do que no plantio convencional, que totalizou uma média de 5,87 mil toneladas por hectare.

"Além disso, em todos os sistemas de manejo avaliados há uma diminuição significativa na produtividade de grãos da primeira para a última década do período, seguindo a mesma tendência observada para a biomassa", observa a pesquisa.

A produtividade média de soja simulada pelo STICS não apresentou diferença significativa entre os tratamentos, com valores médios de 1,599 toneladas por hectare para o sistema convencional e 1,574 tonelada por hectare no plantio direto.

Tendências

O pesquisador Fernando Macena, da Embrapa Cerrados, relata que o modelo climático usado no estudo antecipa uma tendência significativa e consistente de aumento de até 1,77°C na média de temperaturas mínimas diárias e 2,21°C na média de temperaturas máximas diárias.

“Com base nesse aumento da temperatura previsto para o período 2021-2070, podemos concluir, a partir dos dados gerados pelo modelo matemático, que há fortes evidências de que o rendimento de grãos e a biomassa aérea total das plantas diminuirão, o que pode provocar um impacto grave no setor agrícola da região. Os dados também mostram que há uma tendência crescente em aumento das emissões de N2O no período simulado”, analisou.

A expectativa é de que isso ocorra para os dois sistemas de manejo do solo estudados. “Acreditamos que o aumento nas emissões ao longo dos anos está relacionado ao aumento da temperatura e à redução do ciclo das culturas, e que os efeitos são mais pronunciados nos sistemas de manejo do solo convencionais”, completa.

Entre as soluções previstas está a redução do uso de fertilizantes químicos, em especial os nitrogenados para não “sufocar” o solo

O artigo foi publicado no periódico internacional Agriculture, Ecosystems & Environment.

Emissões

Segundo um relatório da FAO de 2022, o setor agropecuário representa 83% das emissões de óxido nitroso (N2O)no Brasil. O potencial de aquecimento global do N2O é de 265 a 298 vezes maior que o gás carbônico (CO2), com tempo médio de 100 anos de permanência na atmosfera.

“Uma melhor compreensão do padrão e das fontes de emissões de N2O dos solos agrícolas é essencial para desenvolver estratégias novas e práticas para limitar a contribuição dos sistemas de cultivo para as alterações climáticas”, apontou a pesquisadora da Embrapa Alexsandra Oliveira.
 
Por Isadora Camargo --- São Paulo
Fonte: Globo Rural
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