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Diversas

Quanto vai custar para o agro global cortar suas emissões de carbono pela metade?
Estudo considerou custos para toda a cadeia se alinhar às metas do Acordo de Paris
Publicado em 26/03/2024 às 07h57
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O setor agropecuário global precisa investir US$ 205 bilhões por ano para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa pela metade entre 2025 e 2030. Nesse período de cinco anos, o custo total alcança US$ 1 trilhão, de acordo com um estudo da Coalizão Alimento e Uso da Terra, do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e da We Mean Business Coalition. Essa diminuição das emissões é o quanto é necessário para o setor caminhar na direção do compromisso do Acordo de Paris, de limitar o aquecimento global a 1,5ºC até o fim do século.

Esses investimentos reduziriam as emissões do setor agropecuário em 9 bilhões de toneladas de carbono equivalente ao ano, que hoje estão relacionadas às emissões decorrentes de mudanças de uso da terra (como desmatamento), da criação de gado, do cultivo de arroz, do uso de fertilizantes sintéticos e de outras produções agrícolas. O volume de emissões representa pouco menos da metade dos 21 bilhões de toneladas de carbono emitidos pelo sistema alimentar todo ano, que também envolve emissões relacionadas ao processamento e distribuição de alimentos e ao consumo de desperdício de produtos.

Mas esse custo estimado da mitigação dentro das fazendas não deve recair somente sobre os produtores rurais, mas também nos demais agentes da cadeia, como intermediários e indústrias. Até porque, para os produtores, arcar com esse fardo sozinhos pode significar a inviabilidade do negócio, alerta Morgan Gillespy, diretora executiva da Coalizão Alimento e Uso da Terra, em entrevista à reportagem.

O estudo lembra que, para os pecuaristas brasileiros, por exemplo, arcar com os custos necessários para reduzir as emissões em 30% pode lhes consumir 17% da receita, enquanto a margem histórica de lucro da atividade é menor do que 20%. “O relatório não responde quem deve atender esse custo, mas coloca um valor sobre a mesa. Muita gente pode ficar preocupada, mas é menos de 2% de todas as receitas do setor alimentício. A lacuna [de informação] financeira não é mais uma desculpa”, afirmou.

Tipos de custos

Um quinto dos custos atribuídos à transição (US$ 40 bilhões ao ano) são relacionados a investimentos em novos mercados, como o de produtos florestais não madeireiros, modelos produtivos sustentáveis, como agroflorestas, e soluções para a demanda, como proteínas alternativas. O relatório observa que estes investimentos, se realizados, destravarão uma forte geração de valor até 2030, gerando retornos somados de US$ 190 bilhões ao ano àqueles que investirem e dirimindo o fardo do custo da transição.

Outra linha de custos de mitigação que podem trazer retornos são as soluções para dentro da porteira. Estimados em US$ 30 bilhões ao ano, esses custos podem aumentar a produtividade das fazendas e melhorar a resiliência dos sistemas alimentares.

Apesar das oportunidades, há custos dos quais não se pode escapar caso se queira de fato reduzir as emissões. São eles relacionados ao monitoramento e rastreabilidade (US$ 60 bilhões ao ano) e de outros custos mitigação das emissões, como o uso de aditivos que reduzem a fermentação entérica do gado (US$ 105 bilhões anuais).

Para Gillespy, os dados precisam agora serem debatidos pelos diferentes atores para que se tenha “uma visão compartilhada de futuro e uma distribuição justa” das responsabilidades. “Precisamos ter um diálogo entre produtores, empresas e particularmente com os agentes políticos”, defende. Ela observou que é preciso repensar algumas políticas, com reforma do sistema de subsídios à produção, e implementação de pagamentos por serviços ambientais. “O Brasil é um dos líderes nisso”, diz.

Consumo e produção

Ela não nega que esses custos podem ser “empurrados” para o consumidor. Mas ela lembra que as indústrias e o varejo já têm investido pesadamente em publicidade para promoção de seus produtos. “É verdade que o consumidor está direcionando uma demanda. Mas o quanto o custo de publicidade das empresas está promovendo alimentos sustentáveis, acessíveis e nutritivos?”, questiona.

Na visão da executiva, nesse processo de investimentos para a redução das emissões, é possível que muitas empresas enfrentem “grandes desafios”, já que seus modelos de negócio estão baseados em produtos com alta pegada de carbono. No atual modelo, os planos empresariais de crescimento que só consideram ampliação da produção já existente não se encaixam nos compromissos climáticos.

Para ela, a necessidade de investimentos em mitigação é uma oportunidade para que os negócios diversifiquem sua atuação. “Não necessariamente vamos ter que crescer menos. Os negócios precisam diversificar suas fontes de receita e ter uma visão integrativa. Assim você pode ser produtivo e ter alternativas”, sustenta.

Regulação

Por outro lado, o custo de não fazer nada também existe. E esse custo não está apenas relacionado aos impactos climáticos na produção agropecuária, ou ao custo reputacional. Para ela, um dos custos que ainda é negligenciado é o custo regulatório. Ela lembra da lei antidesmatamento da União Europeia e outras regulações que o bloco vem aprovando para obrigar as empresas a se alinharem às necessidades de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. “Muitas empresas já têm compromissos no SBTi [Science-Based Targets initiative], ok. Agora é tempo de implementar, e a lei pode apoiar isso”, defende.

Ela observa que os próximos anos serão cheios de eleições gerais no mundo. “Quero acreditar que logo veremos mais países, incluindo os Estados Unidos, implementando leis nos próximos anos”, diz.
 
Por Camila Souza Ramos --- São Paulo - Valor
Fonte: Globo Rural
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